Divagações: Dial M for Murder

Quem está acompanhando o blog deve ter percebido que eu ando assistindo bastante a filmes do Hitchcock . É uma tentativa de aumentar minha b...

Quem está acompanhando o blog deve ter percebido que eu ando assistindo bastante a filmes do Hitchcock. É uma tentativa de aumentar minha bagagem cinematográfica, afinal, acredito que uma boa formação nesse sentido precisa de um repertório amplo. Não que eu pretenda acabar por me tornar especialista, mas quero fazer um esforço para falar menos bobagens nessas minhas divagações! A propósito, se você ainda não leu, clique aqui para ver o que escrevi sobre Notorious e aqui para ler minha opinião sobre Rope.

Ao contrário dos filmes anteriores, Dial M for Murder está na lista dos filmes mais conhecidos do diretor. Creio que isso se deve a diversos fatores, como a presença de Grace Kelly (linda) no elenco e, claro, ao 3D. Agora que a tecnologia voltou à moda, talvez não pareça tão estranho pensar em um suspense em três dimensões, mas há alguns anos – quando eu soube disso – achei verdadeiramente bizarro.

De acordo com o documentário que acompanha o filme no DVD, Hitchcock podia escolher entre as duas novas tecnologias que procuravam tornar o cinema mais interessante que a televisão. Ele decidiu experimentar o 3D, mas à época de lançamento a moda já estava mais fraca e talvez a outra opção tivesse sido mais acertada. Eram os grandes formatos, exatamente como são feitos os filmes atualmente. Ou seja, não adianta procurar Dial M for Murder em widescreen – ele foi feito exatamente no mesmo formato das boas e velhas televisões de antigamente (ou nem tanto, ainda tenho dessas em casa).

O filme conta a história de Tony Wendice (Ray Milland), um péssimo marido que descobre que está sendo traído e arma um plano para se vingar da mulher, chamada Margot Mary (Grace Kelly), sem que ninguém saiba. Ele se torna um marido exemplar durante um ano e, então, paga um ex-colega (Anthony Dawson) para matá-la. Dessa forma, ele herdaria toda a fortuna. O plano, no entanto, dá errado quando a esposa consegue reagir e mata acidentalmente o homem que invadiu sua casa. Mas Tony consegue arrumar outro modo de se vingar, transformando a mulher de vítima em criminosa. Tentando resolver o mistério estão o amante de Margot, Mark Halliday (Robert Cummings), e o inspetor chefe da polícia, Hubbard (John Williams).

Explorando bem a cena do crime – o apartamento do casal – Hitchcock consegue dar profundidade ao filme tanto em conteúdo quanto visualmente (lembre-se, é um filme em 3D, as coisas foram projetadas para saltar da tela). O diretor, mestre na arte de contar histórias, abusa de todos os recursos que pode, inclusive do belo rosto e da capacidade de interpretação de Grace Kelly, que deve ter uma das cenas de julgamento mais baratas e simples da história do cinema, o que não diminui a eficácia e garante o foco do filme.

Mesmo com uma história simples, esse filme possui reviravoltas capazes de manter a atenção de alguém que se entedia fácil (vulgo expectador moderno) e que não gosta de filmes como, por exemplo, Rope. Talvez seja essa a razão mais forte pela contínua popularidade da obra: a capacidade de se manter interessante, mesmo nascendo com uma tecnologia ultrapassada. Isso, aliás só prova que modismos vêm e vão, enquanto o conteúdo e a boa história permanecem.

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