Divagações: Hereafter

A morte é, sem sombra de dúvida, um dos temas mais exaustivamente explorados em toda a história; afinal de contas, é o desconhecido e por qu...

A morte é, sem sombra de dúvida, um dos temas mais exaustivamente explorados em toda a história; afinal de contas, é o desconhecido e por que não? O temor que ele inspira são a grande força que motriz da maior parte das filosofias e religiões já criadas pela humanidade. Por isso de vez em quando somos obrigados a pensar, por que então é tão complicado fazer um bom filme sobre o além? Se ano passado Peter Jackson passou do ponto em The Lovely Bones, esta é a vez do inabalável Clint Eastwood andar sobre um terreno escorregadio.

Hereafter conta a história de três vidas completamente distintas que têm na morte um elemento de profunda transformação e, até podemos dizer, convergência. Marie LeLay (Cécile De France), é uma bem-sucedida jornalista francesa que passa por uma experiência de quase morte e, com isso, embarca em uma intensa jornada de descobrimento. George Lonegan (Matt Damon), por sua vez, é um vidente atormentado por sua incapacidade de se desvencilhar do seu “dom” e pela impossibilidade de ter uma vida comum. Enquanto Marcus (George e Frankie McLaren), um garoto londrino, é atingido por diversos questionamentos sobre a natureza da morte após perder um ente querido.

A trama segue de maneira ritmada e até excessivamente compassada. Mostrando que, mesmo em lugares e situações completamente diferentes, somos todos tomados de assalto pela mesma pergunta: Afinal, o que existe do outro lado? E, infelizmente, é neste ponto que a história começa a fraquejar. Não me entendam mal, não é que Hereafter seja um filme ruim, mas falhou em transpor toda a emotividade que é naturalmente ligada ao tema. Parece que Peter Morgan, dono de roteiros bem mais densos que este, não conseguiu passar para o público o quanto a morte é capaz de transformar alguém. Quer dizer, as situações estão todas lá, mas não existe uma verdadeira catarse. O expectador é apenas isso, um expectador, e não participa dessas reflexões junto aos personagens.

Talvez por isso possamos dizer que Hereafter não é um filme tedioso ou ruim, mas pura e simplesmente um filme anticlimático e digo isso em todos os aspectos. A parte técnica era digna de confiança, a direção, o roteiro, e a produção estavam a cargo de pessoas competentes; o tema era um daqueles que tinha potencial para emocionar e tocar a todos na sala do cinema e algumas situações no filme davam margem para grandes surpresas e um bom desenvolvimento. Mas, no fim, nenhuma dessas expectativas se realizou, não houve lágrimas e nem aplausos, apenas alguns bocejos.

Ao contrario de The Lovely Bones, que tem ao menos o mérito de retratar o outro lado com uma dose generosa de cor e frescor, o além de Hereafter é hermético , cinzento, indefinido e, às vezes, até chato. As cores são todas esmaecidas e a trilha sonora teima em se manter sempre calma e tranquila, mesmo quando talvez devesse ousar um pouco mais. Com o perdão do trocadilho, é tudo muito “morto” e talvez isso faça o filme parecer muito maior e mais arrastado do que as suas duas horas de duração.

Acho que vale a pena dizer que mesmo com todos estes defeitos, talvez Hereafter consiga agradar aqueles que se interessam pelo tema ou os que não carregam tantas expectativas. Trata-se de um filme singelo sobre as pessoas e os laços invisíveis que as unem. Talvez, pensando assim, possamos até dizer que Hereafter consegue ser um bom filme sobre a vida, mesmo falhando em divagar sobre a morte.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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