Divagações: Whatever Works

Vamos deixar algumas coisas claras. Não sou do tipo que acha que tudo o que Woody Allen já fez é maravilhoso ou horrível. Tenho consciência...

Vamos deixar algumas coisas claras. Não sou do tipo que acha que tudo o que Woody Allen já fez é maravilhoso ou horrível. Tenho consciência que ele tem bons filmes e maus filmes e considero isso normal no caso de uma produção tão grande quanto a dele. Além disso, sou mais tentada a achar que a maior parte de seus filmes pode ser classificada como entre médio e bom, ou seja, não são obras-primas, mas têm seu mérito e merecem ser vistas pelo que são.

No entanto, estou em crise com Whatever Works. Não consigo apontar nenhum grande problema no filme – pelo contrário, ele tem um roteiro bom, com diálogos inteligentes, usa recursos interessantes de narração, tem uma fotografia bem explorada, o elenco é ótimo e trabalha bem em conjunto. Talvez o protagonista não tenha um apelo muito grande para mim ou algo desse tipo, mas o fato é que alguma coisa parece não funcionar bem. Tudo está no lugar certo, mas o resultado final é simplesmente competente, longe do fantástico ou até mesmo do legal.

Basicamente, o filme conta a história de Boris (Larry David) um professor universitário que se considera um gênio e tem suas próprias ideias sobre todos os assuntos. Depois de um casamento frustrado, ele tenta o suicídio, fica manco e passa a viver sozinho. Até a chegada de Melody (Evan Rachel Wood), uma moça bonitinha e burrinha do interior que ele encontra na rua e que implora a ele por abrigo. Eventualmente, os dois acabam se envolvendo, resultando em um casamento facilmente previsível pelo espectador, mas bastante bizarro mesmo assim. Eles vivem em relativa harmonia até a chegada dos pais da moça (Patricia Clarkson e Ed Begley Jr.) que, cada um por sua vez, bagunçam a rotina estabelecida do casal.

Para vocês terem uma noção da distância intelectual entre o casal, deem uma lida em um dos diálogos do filme (calma, não vou estragar nenhuma grande surpresa):

Melodie St. Ann Celestine: So what kind of genius are you any way?
Boris Yellnikoff: What kind?
Melodie St. Ann Celestine: Yeah, like what are you a genius at?
Boris Yellnikoff: Quantum Mechanics.
Melodie St. Ann Celestine: Yeah, but what field... Like music?

Esse é o tipo de coisa que você acha engraçado e talvez continue achando se rever o filme daqui há uns dois anos. Ao mesmo tempo, são piadas forçadas que existem sobre um terreno mais ou menos fértil (a burrice exagerada) e não saem muito disso. A propósito, o filme parece saber disso, uma vez que Boris critica o uso que Melodie faz de clichês, mas – quando é descoberto dizendo um – confessa que às vezes eles são a maneira mais adequada de expressar um determinado sentimento. Ou seja, é como se Whatever Works fosse, basicamente, um filme interessante caindo – por necessidade narrativa – em um imenso clichê. Ele se expressa bem e tem algo a dizer, mas, na verdade, não traz nada que você já não soubesse a princípio, deixando a sensação de um vazio levemente desconfortável.

De qualquer forma, se algum dia você estiver assistindo televisão e encontrar Whatever Works não precisa sair correndo. Ele diverte, não é um filme burro e cumpre bem seu objetivo de comédia romântica diferenciada. Não precisa ser fã de Woody Allen para gostar, mas se você for é melhor.

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