Divagações: Jackie Brown

De todos os filmes do diretor Quentin Tarantino , eu me arrisco a dizer que Jackie Brown é o menos conhecido. Talvez, com o tempo, Death Pr...

De todos os filmes do diretor Quentin Tarantino, eu me arrisco a dizer que Jackie Brown é o menos conhecido. Talvez, com o tempo, Death Proof assuma essa posição, mas como ele ainda é recente, acho que Jackie Brown ainda está “na frente”. Isso não quer dizer que o filme seja fraco, apenas “mais alternativo”. Onde mais teríamos Pam Grier como protagonista sexy em planos anos 1990? Não é uma coisa que se vê todo dia.

O filme se passa em um universo de influências, tráfico de armas e uso aberto de drogas. A barra é pesada e Jackie Brown (Pam Grier) a princípio não parece fazer parte disso. Ela é uma aeromoça bonita de uma pequena companhia aérea e tem em torno de 40 anos – ou seja, a juventude está indo embora e a carreira não irá muito longe. Tudo vai bem até que dois policiais resolvem revistá-la e acham uma quantia considerável de dinheiro, bem acima do permitido para quem entra no país. A grana, na verdade, pertencia ao traficante de armas Ordell Robbie (Samuel L. Jackson), verdadeiro alvo da polícia. Para livrar sua cúmplice da cadeia, o traficante então contrata o agente de fianças Max Cherry (Robert Forster), que está prestes a se aposentar e aceita interceder sem revelar o nome do financiador para a polícia.

Com todas as cartas postas na mesa, começa o jogo de Jackie Brown. Ela precisa se livrar da polícia e de Ordell Robbie, levando um bom dinheiro, de preferência. Para tanto, ela usa de todas as suas armas, inclusive encantando Max Cherry. Fica difícil saber de que lado ela está, quem ela está enganando, quem ela está ajudando, quem ela vai passar para trás. Até mesmo a jovem amante “surfistinha” do traficante, Melanie Ralston (Bridget Fonda), acaba entrando no esquema sem saber – para desespero do mais novo membro da gangue, Louis Gara (Robert De Niro em uma participação especial meio estranha).

A trama toda é muito inteligente e bem estruturada, contando com toda a habilidade de Quentin Tarantino quando o assunto é roteiro, além da história original de Elmore Leonard. As contribuições do roteirista/diretor, no entanto, são bem claras. Só para começar, a protagonista originalmente se chamava Jackie Burke e era branca. Como Tarantino queria trabalhar com Pam Grier, ele não somente mudou a cor da pele da personagem como seu sobrenome, fazendo uma homenagem a Foxy Brown, personagem de um filme de mesmo nome, interpretada por Pam e que foi um marco na carreira da atriz. Isso sem contar a maneira própria como o diretor conta uma história.

Outros aspectos que caminham lado a lado na construção do filme, por exemplo, são o figurino e a trilha sonora. Eles deixam a época e o lugar bem demarcados, dando charme e estilo ao conjunto. Assim, em Jackie Brown, a comunidade negra não somente tem voz, mas dá o tom de toda a produção. Mesmo quem considera a música brega termina de ver o filme com certa vontade de ouvir (nem que seja só mais uma vez) Didn't I Blow Your Mind This Time, da banda The Delfonics.

É bastante difícil não se encantar com o filme. Embora tenha sua dose de violência gratuita, é tudo muito estilizado (ou tarantinesco, como você preferir). A protagonista é apaixonante e você vai simpatizar com ela sem muitos problemas, mesmo ela não sendo um exemplo cheio de ética e bons costumes. Enfim: Don’t mess around with Jackie Brown. She’s the meanest chick in town! She’s brown sugar and spice but if you don’t treat her nice, she’ll put you on ice!


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