Divagações: X-Men - First Class

Tenho de dizer que estava meio cético em relação a X-Men: First Class . Afinal, esse é o tipo de filme que tinha potencial para dar muito ce...

Tenho de dizer que estava meio cético em relação a X-Men: First Class. Afinal, esse é o tipo de filme que tinha potencial para dar muito certo – ou muito errado. O que é quase uma regra quando se reinicia uma franquia ou se faz uma história que foge do ramo principal. Bem, mesmo com a minha falta de fé, o filme realmente saiu e, contra todas as chances, é muito melhor do que poderia ter sido. Não que isto o torne memorável. Mas para quem esperava um fiasco no nível de X-Men Origins: Wolverine, X-Men: First Class se mostra como uma grata surpresa para os fãs.

A premissa era bem simples, mostrar o caminho de diversos de personagens famosos – e outros nem tanto – antes mesmo da criação dos X-Men como conhecemos, o que nos faz pensar sobre a inconsistência do nome do filme... Afinal, se essa equipe é anterior à nomenclatura, a verdadeira First Class seria a próxima, não seria? Sobretudo quando se quer esmiuçar a relação de amizade entre o Professor X e seu arquirrival, Magneto.

E o filme nos trás exatamente isto, contando os caminhos distintos que Charles Xavier (James McAvoy), um jovem rico e brilhante, e Erik Lehnsherr (Michael Fassbender), um ex-prisioneiro nazista em busca de vingança, percorrem antes do encontro fatídico que mudaria a vida de ambos. É claro que muitos detalhes são acrescentados e outros tantos são omitidos, mas o resultado não é repreensível. As subtramas até existem, só que são aquelas típicas de um filme dos mutantes. Neste caso, a sempre presente busca pela aceitação pela sociedade é personificada pelos conflitos que assolam Raven/Mystique (Jennifer Lawrence) e, em menor grau, a Hank McCoy/Beast (Nicholas Hoult), questões que, de certa forma, "justificariam" as suas escolhas futuras.

Felizmente, o balanço geral é positivo. O cenário dos anos 1960, o auge da guerra fria, é convincente para o desenvolvimento da trama. O ritmo é bastante confortável, apesar de a edição fragmentada ter incomodado em alguns momentos. Quanto ao desenvolvimento dos personagens, fico contente em dizer que Matthew Vaughn soube trabalhar muito bem com seus protagonistas. Apesar de algumas falhas bastante chatas de consistência em alguns personagens, em boa parte do tempo Xavier e Magneto são muito bem representados, a ponto de ofuscar completamente alguns coadjuvantes que até poderiam ser mais bem apresentados. Na verdade, arrisco dizer que o filme todo bate muito nesta tecla e não tem como tirar esses dois personagens dos holofotes.

No entanto, esse mesmo aspecto pode ser considerado uma falha, já que os próprios vilões são colocados meio de lado. Infelizmente, Sebastian Shaw (Kevin Bacon) e seus comparsas estão longe de serem memoráveis ou de terem motivações realmente convincentes. Faltou um trabalho de humanização, o que é certamente um demérito. É o tipo de coisa que, se consertada, poderia levar o filme a ser consideravelmente melhor.

Outra coisa que me incomodou – excluindo as críticas ao próprio afastamento da trama com relação aos fatos e personagens dos quadrinhos, algo relativamente natural em uma adaptação – foi a excessiva alteração de fatos estabelecidos nos filmes passados posteriormente (ou retcom). Mesmo que na maior parte do tempo X-Men: First Class tente ser consistente com a mitologia já apresentada, às vezes os fatos batem de frente com os roteiros anteriores. O que levanta a seguinte pergunta: Afinal, isso é um mero prequel (uma "sequência" que antecede os filmes já conhecidos) ou o recomeço para uma nova série dos mutantes?

De todo modo, o filme tem seus méritos e, certamente, será considerado por muitos como o melhor da série. Talvez tenha faltado algum polimento em alguns pontos, mas isso de forma alguma prejudica o resultado final. É claro X-Men: First Class que não será nenhum clássico do gênero como The Dark Knight, mas sem dúvidas ele cumpre bem o seu papel de apresentar um novo panorama e refrescar um pouco a franquia que estava bastante desgastada desde X-Men: The Last Stand. O que isso vai resultar em longo prazo? Não sei... Mas não me surpreenderia em ver um "Second Class" aparecendo nos cinemas em breve.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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