Divagações: Mononoke-hime

Exatos 13 anos depois de Kaze no tani no Naushika , o diretor Hayao Miyazaki lança mais um filme igualmente marcante e com a mesma tem...

Exatos 13 anos depois de Kaze no tani no Naushika, o diretor Hayao Miyazaki lança mais um filme igualmente marcante e com a mesma temática, a preservação do meio ambiente. Mononoke-hime, no entanto, mantém a mesma característica de seus sucessores e centra sua atenção nos personagens e em suas trajetórias pessoais.

A princípio, o filme acompanha Ashitaka (Yôji Matsuda), o príncipe de uma pequena aldeia. Após defender seus conterrâneos de um demônio da floresta descontrolado, ele acaba com uma cicatriz amaldiçoada que pode matá-lo, de modo que ele se obriga a partir em busca da cura. Seu objetivo é chegar em uma floresta mágica, onde vivem espíritos/animais gigantes que seriam capazes de livrá-lo de seu tormento (detalhe, a maldição também o transforma em uma pessoa muito forte e resistente). Entretanto, quando chega em seu destino, Ashitaka descobre que lá existe também uma aldeia de mineradores, que extraem ferro da areia. A convivência entre os seres da floresta e os humanos, no entanto, não é pacífica e a líder local, Eboshi-gozen (Yûko Tanaka), é frequentemente ameçada por uma garota que vive com os deuses-lobos, chamada San (Yuriko Ishida). Essa menina também é conhecida como Mononoke-hime, o que significa algo similar a “princesa dos espíritos”, denotando sua proximidade dos animais mágicos da floresta.

Os conflitos que se seguem tornam clara a complexidade do filme. Mononoke-hime não foi feito para crianças pequenas. Há muito sangue e mutilações, além de uma dose razoável de intolerância. A questão entre a vila exploradora e a floresta protegida por espíritos/animais gigantes ultrapassa barreiras como a ignorância a respeito do meio ambiente, sendo que há ganância e política. Nem mesmo entre os protetores da floresta há consenso e é na divisão de forças que moram as principais fraquezas de ambos os lados.

Justamente por apresentar muitos elementos e tentar trazer diferentes lados da questão, o filme acaba se tornando um pouco confuso e alguns elementos – como a pedra amaldiçoada que Ashitaka encontrou no demônio – acabam não sendo bem explicados. Ainda assim, a história central é bem fechada e suficiente por si só. Além disso, a princesa de comportamento selvagem, o príncipe amaldiçoado, a líder poderosa e os espíritos cansados formam um conjunto de personagens único e inconfundível, representando uma luta onde todos são grandes forças com muitos méritos e diversos defeitos.

Embora tenho muitos elementos da cultura japonesa, o público ocidental não deve encontrar muitas dificuldades em entender a história e as motivações dos personagens. Aliás, eu diria que é inclusive mais fácil compreender os espíritos da floresta aqui do que em Tonari no Totoro, por exemplo.

Outro grande valor da produção é a excelente qualidade da animação. O desenho tradicional, feito quadro a quadro, é trabalhoso e exige paciência, cuidado, grande número de profissionais e muito dinheiro investido (obviamente, a animação em computador exige um grande investimento inicial, mas as produções subsequentes se tornam mais baratas). Em Mononoke-hime, os mínimos detalhes podem ser observados e tudo recebeu um tratamento excepcional. Mesmo aqueles que não quiserem prestar atenção na história (ou ficarem chocados com a violência) poderão se maravilhar com a beleza dos cenários e dos “figurinos”.

Enfim, Mononoke-hime traz toda a beleza, poesia e conteúdo das obras de Hayao Miyazaki. Pena que, para assistir por aqui, só contando com a boa vontade dos canais de TV a cabo (como eu fiz) ou comprando o DVD importado (quem puder, aproveite a adaptação dos diálogos realizada por Neil Gaiman).

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2 recados

  1. Não é uma pedra amaldiçoada... é a bala do canhão da Eboshi que matou o Javali.

    Achei que isso tinha sido bem óbvio quando ela disse que matou o bicho

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  2. Não tinha pensado nisso, mas faz muito sentido! Só tenha cuidado com os spoilers nos comentários! ;)

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