Divagações: Os 3

Quando soube que Os 3 estava para estrear minha reação foi de uma profunda confusão, afinal, eu havia visto o trailer a tanto tempo, q...

Quando soube que Os 3 estava para estrear minha reação foi de uma profunda confusão, afinal, eu havia visto o trailer a tanto tempo, que já acreditava que o filme tivera uma passagem relâmpago pelos cinemas e agora jazia perdido nas prateleiras de alguma locadora. No entanto, ele nem havia estreado, a exemplo de outros filmes que tem a problemática tendência a demorar para sair. Deixando de lado a minha ignorância, rumei para o cinema sem grandes expectativas, pois quem me conhece sabe que não sou dos maiores fãs das produções nacionais. 

Além disso, uma história adolescente que misturava conceitos do Big Brother e triângulos amorosos certamente não fazia parte da lista de filmes que mais me empolgavam. Com tanta coisa mais interessante nas terras tupiniquins, como O Homem do Futuro e O Palhaço, não conseguia sentir vontade de ver este filme. Ainda assim, surgida a oportunidade, resolvi dar uma chance. 

Em Os 3, Rafael (Victor Mendes), Camila (Juliana Schalch) e Cazé (Gabriel Godoy), são típicos calouros deslumbrados com a cidade grande, vindos do interior e sem um tostão no bolso. Depois de se conhecerem em uma festa, não se desgrudam mais, passando a morar, estudar e viver cada momento juntos. Essa grande amizade é abalada com o fim do curso e a perspectiva de terem de se separar em breve. Eis que surge Guilherme (Rafael Maia), um publicitário ávido por transformar em realidade o projeto de conclusão de curso dos três – um reality show misturado com um site de vendas. Isso permite que eles possam passar mais um tempo juntos e, talvez, resolver algumas pendências amorosas que rolaram nesses últimos anos. 

Não vou mentir que, desse ponto em diante, a história oferece alguns desenvolvimentos mais interessantes do que o mote poderia supor e admito que fui um pouco preconceituoso. Porém, não posso deixar de apontar alguns defeitos que me incomodaram muito. Também irei dividir algumas palavras mais brandas sobre o filme, só para não dizerem que insisto em falar mal da produção nacional. 

O maior problema de termos atores trabalhando no nosso idioma pátrio é justamente a capacidade de observarmos toda e qualquer falha destes. Nesse ponto, Os 3 é um prato cheio. No início do filme, sobretudo, as atuações são bem engessadas e há uma narração em off incapaz de convencer qualquer um, o que só piora a situação. Devo admitir, porém, que o rumo da história torna as coisas um pouco mais toleráveis. Ainda assim, a tentativa de desenvolver os maneirismos e a personalidade de cada personagem é um pouco falha e até o final não chega a ser bem apresentada. 

O roteiro também não impressiona e em muitos momentos a trama parece solta, sem saber muito bem aonde quer chegar. Se a tentativa era só fazer um comentário sobre a vida o amor e a juventude, bem, devo dizer que já vi execuções melhores e que não precisavam abrir mão da objetividade para isso. Mas vejam só! Não é que os aspectos técnicos mantêm um patamar de qualidade bastante alto? A fotografia de Ricardo Della Rosa é muito bonita e me chamou bastante atenção. A montagem fica a cargo da nossa figurinha carimbada, Daniel Rezende, que como sempre faz um bom trabalho e injeta ânimo em um roteiro que de outro modo poderia ser chamado de apático.

Apesar de tudo, não sei exatamente para quem recomendaria Os 3. O filme não é memorável (contudo, também não é ruim) e apresenta boas sacadas. Se você, por algum motivo, achou o tema interessante e ficou com vontade de ver, vá sem medo. Não posso garantir uma obra-prima, mas, pelo menos, perda de tempo não será. Na falta de melhores opções nessa entressafra cinematográfica, Os 3 é uma boa pedida, sobretudo nas infames sessões promocionais onde os filmes brasileiros estão condenados a aparecer.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal 
Edição: Renata Bossle

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