Divagações: The Iron Lady

Contar a vida de uma pessoa já é uma tarefa difícil em formato de livro. Em um filme de duas horas isso assume ares de missão impossíve...

Contar a vida de uma pessoa já é uma tarefa difícil em formato de livro. Em um filme de duas horas isso assume ares de missão impossível – e, ainda assim, há muitas cinebiografias. Esse ano, J. Edgar e The Iron Lady trouxeram figuras políticas controversas, afastando os mais jovens do gênero e recebendo olhares tortos da crítica. Os dois filmes apostaram em uma estrutura mais convencional e tentaram minimizar pontos controversos das carreiras dos retratados ao se voltarem para aspectos pessoais. Em pensar que no ano passado tivemos The King’s Speech e The Social Network...

De qualquer modo, The Iron Lady conta a história da ex-primeira ministra inglesa Margaret Thatcher (Alexandra Roach e Meryl Streep). O filme explora a influência dos ideais de seu pai, Alfred Roberts (Iain Glen) durante a juventude, o casamento com Denis Thatcher (Harry Lloyd e Jim Broadbent), o início da carreira, as decisões controversas como primeira-ministra e a queda do cargo e o início da senilidade, com o acompanhamento da filha, Carol Thatcher (Olivia Colman). Ela é mostrada como uma mulher forte, determinada e inflexível em suas decisões. Ao mesmo tempo, ela é apegada aos valores familiares e às vaidades femininas, tornando sua presença em um parlamento masculino ainda mais marcante.

Dirigido por Phyllida Lloyd, o filme transforma todos os personagens em pessoas incríveis, especialmente Denis Thatcher, que vive apenas nas lembranças e nos devaneios da protagonista. Aliás, a decisão de costurar a história com momentos da personagem em idade avançada e com a saúde debilitada faz com que a história perca ainda mais de seu apelo. Afinal, uma mulher como essa merece ser vista em seu auge e com todo o tipo de polêmicas ao seu redor. Ainda assim, a batalha mental que ela trava com as lembranças do marido é essencial dentro do contexto narrativo.

Obviamente, uma personagem forte – e real – como essa chamaria a atenção. Assim que The Iron Lady foi anunciado como tendo Meryl Streep no papel principal, a atriz automaticamente se transformou na favorita para o Oscar, previsão que se confirmou no último domingo (26). Ela consegue dar o tom ao filme, segurando uma personalidade difícil em diversas fases da vida. Outra atriz poderia ter endurecido ou amolecido, mas Meryl mantém o ponto certo. Contudo, não dá para negar que ela é tão esperada e tão marcante por si só que, por vezes, aparece mais que seu próprio trabalho.

Como Thatcher ainda está viva, o filme, infelizmente, acabou sendo bastante sutil em pontos mais controversos, como as decisões econômicas que alavancaram as taxas de desemprego na década de 1980 e a Guerra das Malvinas (quem já teve a oportunidade de ir para a Argentina sabe o ressentimento que ainda existe). Esses pontos obrigatórios estão presentes, embora exista um grande potencial perdido nesse ponto. Um filme mais político poderia gerar problemas, mas talvez fosse melhor e mais memorável que essa opção onde apenas se conta, mas não se explora quem realmente é a retratada e em quais ideais ela acredita.

Como filme, The Iron Lady é dramático e emocionante, principalmente devido ao trabalho dos atores. Como biografia, no entanto, é uma obra um tanto receosa demais, beirando a covardia – algo que não seria tolerado pela personagem principal, diga-se de passagem. É justamente por não cumprir esse objetivo que o filme foi mal visto por muito. Para quem está mais interessado em um bom drama baseado em fatos reais do que em política, no entanto, essa é uma boa opção.

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