Divagações: Attack the Block

Faz praticamente um ano que postei no blog o pôster de um filme chamado Attack the Block . Na época, eu havia lido alguns elogios, mas ai...

Faz praticamente um ano que postei no blog o pôster de um filme chamado Attack the Block. Na época, eu havia lido alguns elogios, mas ainda não sabia exatamente do que se tratava o filme. Com o tempo, chegaram até mim mais críticas positivas sobre o filme e fui descobrindo mais a respeito do assunto. Mesmo assim, não sabia o que exatamente havia de tão especial nesse filme escrito e dirigido por Joe Cornish (guardem esse nome).

Attack the Block conta a história de um grupo de adolescentes de um conjunto residencial do sul de Londres, uma área violenta da cidade. Eles se reúnem para abordar Sam (Jodie Whittaker) em um dia cheio de fogos de artifício no céu. Logo após o assalto, entretanto, eles veem cair algo similar aos fogos, vão atrás e acabam brigando com uma estranha criatura de origem desconhecida. Pensando em ganhar dinheiro com o animal, eles o escondem na plantação de maconha de Ron (Nick Frost), o lugar mais seguro do bloco. No entanto, começam a cair mais e mais criaturas, muito mais fortes, ameaçadoras, perigosas, pretas e peludas que a primeira – e todas vão atrás deles.

Assim, através de uma premissa simples, começa a se desenvolver uma história interessante. O preconceito inicial contra os meninos, que praticamente falam um dialeto de rua próprio, vai se transformando em simpatia e admiração a medida que os conhecemos melhor. Moses (John Boyega) é o corajoso líder, Pest (Alex Esmail) é mais tranquilo e razoável, Dennis (Franz Drameh) é impetuoso, Jerome (Leeon Jones) é o grande companheiro e Biggz (Simon Howard) sempre se mete em encrenca. Não que as personalidades sejam assim tão simples. A relação de amizade entre eles esconde e protege informações pessoais e familiares que são mostradas em pequenos detalhes ao longo do filme. Além disso, o próprio bloco abriga outros elementos que fazem cair a máscara de bravura dos meninos, como o traficante Hi-Hatz (Jumayn Hunter), o viciado Brewis (Luke Treadaway) e as meninas Tia (Danielle Vitalis) e Dimples (Paige Meade).

Dessa forma, ao mesmo tempo em que caminha para a solução do problema proposto (o absurdo ataque alienígena que se concentra ao redor de um bloco de edifícios), Attack the Block fala sobre as pessoas que vivem em um lugar assim e as razões delas terem esses comportamentos. A polícia só parece acreditar na mulher branca e adulta enquanto os adolescentes negros e cheios de gírias nem ao menos têm o direito de se defender. Preconceitos como esse parecem absurdamente reais em um contexto que, no final das contas, não é assim tão distante de qualquer cidade grande brasileira.

O grande diferencial de Attack the Block, dessa forma, não está no campo dos efeitos especiais (que são simples, porém, convencem muito bem) nem em exercícios narrativos, mas nas pessoas que ele retrata. O filme diverte com seu ataque alienígena focado em pessoas comuns ao invés de autoridades e monumentos turísticos e, embora a situação possa parecer absurda e algumas coisas sejam exageradas, aqueles meninos poderiam muito bem morar perto de você (e você sentiria medo se cruzasse com eles pelas ruas).

O filme também é divertido, com cenas de correria, mortes, gente drogada e pessoas desesperadas (porque gostamos de ver essas coisas?). Se não fosse toda a violência, o sangue e outras questões do ‘politicamente correto’, Attack the Block poderia se tornar um verdadeiro clássico da Sessão da Tarde – no melhor sentido do termo.

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