Divagações: The Dictator

Gostando ou não, é complicado não admitir que as comédias de Sacha Baron Cohen foram um sopro de ar fresco em meio aos manjados clichês ...

Gostando ou não, é complicado não admitir que as comédias de Sacha Baron Cohen foram um sopro de ar fresco em meio aos manjados clichês do gênero. Misturando humor negro, crítica política e uma porção considerável de mau gosto, filmes como Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan e Brüno foram, dentro das suas limitações, sucessos consideráveis, que fizeram muita gente se questionar sobre a que ponto chega a imbecilidade do americano (ou do ser humano) comum.

Assim, quando The Dictator foi anunciado, ficou uma pergunta ficou no ar: seria possível para Baron Cohen repetir a fórmula dos filmes anteriores ou ele se tornaria vítima da própria visibilidade? O resultado final, porém, não poderia estar mais longe desta pergunta. Ao contrário dos seus filmes mais conhecidos, The Dictator resgata a essência de Ali G Indahouse, seu primeiro filme, baseado no personagem da série de TV chamada Da Ali G Show, cujo roteiro era inteiramente ficcional.

O personagem a que o título desse novo filme se refere é Aladeen (Sacha Baron Cohen), o ditador de um empobrecido país do Oriente Médio. Megalomaníaco e egocêntrico, ele passa os seus dias vivendo na suntuosidade enquanto oprime os pobres cidadãos de Wadiya. Assim, quando as Nações Unidas o convocam para dar satisfações sobre o programa nuclear do país, o conselheiro Tamir (Ben Kingsley) se aproveita da oportunidade para tentar tomar o poder e se livrar do problemático Aladeen de uma vez por todas.

Para quem esperava por mais um Borat, certamente The Dictator foi uma decepção. Digo isso, pois uma das mais fortes marcas dos trabalhos anteriores de Baron Cohen era colocar pessoas comuns em situações absurdas e extrair delas reações ainda mais absurdas, confrontando o exagero da própria cultura americana. Dessa forma, é de se estranhar todo este afastamento da dita realidade, ainda mais quando você constantemente espera que em algum momento surjam situações assim.

Deixando as expectativas de lado, o humor não foge muito do que era esperado, sendo muito politicamente incorreto e, muitas vezes, ofensivo. Há alguns bons momentos de crítica aos estereótipos e ao status quo do povo americano em relação a imagem do terrorista mulçumano, contudo, o filme não vai muito além disso. Afinal, o roteiro em si só serve para costurar uma sequência de gags e tem muito pouco significado como história. Como a trama só se sustenta no personagem Aladeen, o elenco secundário ficou bastante apagado e pouco influenciou no resultado final da trama, transformando o que poderia ser uma comédia de estereótipos muito interessante em um produto previsível e insosso.

De todo modo, The Dictator tem os seus bons momentos, mas dificilmente consegue ser brilhante em seus parcos 83 minutos de filme. Com todo esse potencial mal aproveitado é complicado recomendar este como um filme para se ver no cinema, sobretudo se pensarmos que ele já saiu em DVD no exterior e em breve estará nas prateleiras de nossas locadoras. Vale uma chance se você gostou dos filmes anteriores, no entanto, aqueles que sempre acharam os filmes de Sacha Baron Cohen o ápice do mau gosto não irão mudar de ideia com The Dictator.


Texto: Vincius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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