Divagações: Inkheart

Existe um tipo de filme que parece ter perdido bastante espaço nos últimos anos: a fantasia destinada ao público infantojuvenil. Para que...

Existe um tipo de filme que parece ter perdido bastante espaço nos últimos anos: a fantasia destinada ao público infantojuvenil. Para quem não se lembra, essas são aquelas histórias que envolvem coisas que normalmente os adultos não acreditariam. Exemplos recentes de que me recordo são Zathura: A Space Adventure (2005) e as três adaptações de The Chronicles of Narnia (2005, 2008 e 2010). Embora tenham sua fatia de mercado, nenhum deles foi um sucesso estrondoso. Quanto a Harry Potter, acredito que os filmes até podem ser considerados como pertencentes a esse gênero, mas se enquadram melhor nas prateleiras de aventura (com a possível exceção dos dois primeiros, dirigidos por Chris Columbus).

Além desses, em 2008 foi lançado Inkheart, baseado no livro de Cornelia Funke (que também produziu a adaptação). O filme conta a história de Mo (Brendan Fraser, escolhido por ter inspirado a autora na criação do personagem). Ele é um restaurador de livros que viaja tanto com sua filha Meggie (Eliza Bennett) que ela nem ao menos frequenta a escola regular. Ele escolheu esse estilo de vida porque busca desesperadamente por uma cópia do livro Inkheart, onde sua mulher Resa (Sienna Guillory) está presa.

A verdade é que toda vez que Mo lê um livro em voz alta, os personagens saem das páginas, mas alguém do mundo real precisa entrar nelas para ocupar o lugar. Assim, ele é o responsável pela libertação de um bando de malfeitores, do vilão Capricorn (Andy Serkis, careca e irreconhecível como sempre) e do malabarista Dustfinger (Paul Bettany). Para tentar resolver a situação, ele acaba pedindo a ajuda de sua tia Elinor (Helen Mirren) e do autor do livro, Fenoglio (Jim Broadbent).

Embora tenha uma bela coleção de criaturas e personagens fantásticos aparecendo todo o tempo pela tela, Inkheart os usa apenas como entretenimento visual. Com poucas referências (algo que poderia agradar os mais velhos), o filme acaba mais focado na história dos protagonistas e em seus temores. Ou seja, é bastante objetivo e cumpre bem o que promete, mas não traz nenhuma novidade e não chega a encantar.

O elenco parece ter embarcado com muito carinho no projeto, mesmo com Brendan Fraser no papel principal (peço desculpas para quem é fã, mas eu sou desconfiada por natureza). Vale acrescentar que Jennifer Connelly faz uma participação especial inútil, embora esteja muito bonita com o figurino. De qualquer modo, não é possível negar que história encanta e tem seu charme, principalmente depois que autor e personagens começam a interagir – praticamente uma versão light de Sei personaggi in cerca d’autore, de Luigi Pirandello.

Outro destaque da produção são os belos cenários europeus. Há paisagens, castelos e até uma vila medieval (localizada na Itália). Nesse contexto, a nacionalidade dos personagens fica um pouco confusa, mas isso importa pouco e, na verdade, até facilita, pois torna possível chegar em qualquer lugar de carro. Ainda bem que o público-alvo de Inkheart não teve muitas aulas de Geografia.

Assim, mesmo sem ser um primor, o filme é um representante digno do gênero e traz um pouco mais de magia para um dia a dia sem graça. As crianças devem se divertir e os adultos podem embarcar se estiverem dispostos a isso. Por seus méritos próprios, Inkheart realmente não merecia ser um sucesso de bilheteria, mas o cinema não perderia se tivesse mais produções como essa.

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