Divagações: The Producers

Quanto tempo demora para que você possa fazer graça a partir de algo terrível, que resultou na morte de milhares de pessoas, assustou a t...

Quanto tempo demora para que você possa fazer graça a partir de algo terrível, que resultou na morte de milhares de pessoas, assustou a todos e acabou envolvido em uma guerra mundial? O regime da Alemanha nazista e seu icônico líder, com certeza, representam um assunto bastante delicado até os dias atuais. Contudo, em 1968, Mel Brooks escreveu e dirigiu um filme sobre dois produtores da Broadway que decidem fazer o pior espetáculo de todos os tempos – e acabam fazendo sucesso com um Hitler supostamente engraçado.

Realmente, existe uma linha tênue entre o mal gosto e o cômico. A versão original de The Producers (que deveria ser uma peça) fez sucesso mesmo andando nessa corda bamba e acabou realmente se transformando em um espetáculo da Broadway (que deu origem a esse filme). Ou seja, essa refilmagem de 2005, na verdade, é um filme sobre uma peça baseado em uma peça sobre uma peça baseada em um filme sobre uma peça. Tente dizer isso cinco vezes e bem rápido.

A história, de qualquer modo, permanece a mesma. Max Bialystock (Nathan Lane) é um produtor decadente que amarga mais um fracasso na Broadway quando recebe a visita do frustrado contador Leo Bloom (Matthew Broderick). Enquanto examina os livros, Bloom comenta que é possível fazer mais dinheiro com um fracasso que com um sucesso – e o outro percebe isso como uma grande oportunidade.

Juntos, eles vendem uma quantidade imensa de cotas de patrocínio para um espetáculo que tem tudo para dar errado, uma versão romantizada e poética sobre a vida de Adolf Hitler, onde toda a filosofia nazista é adorada e exaltada. Eles também contratam o pior diretor que conhecem, Roger DeBris (Gary Beach); chamam o maluco autor, Franz Liebkind (Will Ferrell), para o papel principal; e contratam a bela estrangeira Ulla (Uma Thurman) como corista e secretária.

O golpe em si é até interessante, mas não é ele que importa. Todo o processo de montagem da peça é absolutamente envolvente: a escolha do roteiro, a assinatura dos papéis, a arrecadação do dinheiro, a seleção do elenco, os ensaios e a estreia representam desafios que vão, aos poucos, sendo vencidos. A cada um desses momentos, somos apresentados a novos e cativantes personagens, que fazem entradas triunfais (exatamente como deve ser em um espetáculo da Broadway, afinal) e cantam suas músicas.

Nenhuma das canções, é preciso dizer, chega a dar vontade de dançar ou tem a capacidade de permanecer em sua cabeça depois que o filme acaba. A maior parte está relacionada com alguma função narrativa, normalmente ajudando a apresentar uma característica importante do personagem que está cantando. Isso não quer dizer, no entanto, que elas sejam ruins. Cada música tem suas próprias características e se torna uma parte única do espetáculo.

The Producers, dessa forma, não é um filme inovador como foi o original, mas é uma homenagem digna. Mel Brooks assumiu a cadeira de produtor, deixou a diretora Susan Stroman fazer o seu trabalho e permitiu aos atores que brilhassem em seus papéis – e todos são competentes naquilo que fazem. É uma história divertida e que merece ser conhecida e reconhecida.

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