Divagações: Blue Valentine

Tenho uma pena sincera das pessoas que, em 2010, foram assistir a Blue Valentine para comemorar o Dia dos Namorados. Afinal, o filme est...

Tenho uma pena sincera das pessoas que, em 2010, foram assistir a Blue Valentine para comemorar o Dia dos Namorados. Afinal, o filme estreou no dia 10 de julho, tem um casal se beijando no pôster e recebeu o título nacional de Namorados para Sempre. Realmente, não dá para culpar quem não leu a sinopse e acreditou que esse era um romance açucarado, pois foi, praticamente, um marketing mal-intencionado.

Blue Valentine conta a história de um relacionamento do início ao fim, mas não nessa ordem. Inicialmente, somos apresentados ao casal Dean (Ryan Gosling) e Cindy (Michelle Williams), que tem uma linda filhinha chamada Frankie (Faith Wladyka). Já dá para perceber que existe um amor desgastado e um casamento em crise. O desenrolar dos desentendimentos do dia a dia é intercalado com flashbacks que contam a história do relacionamento dos protagonistas. Cada detalhe sobre o passado que é revelado faz com que seja mais triste observar a que ponto eles chegaram.

Ou seja, longe de ser indicado para casais felizes e que estão começando a se conhecer, o filme é direcionado para pessoas mais maduras, que já viveram frustrações, ou para quem acabou de terminar um relacionamento e deseja chorar até formar um rio de lágrimas. Não existem histórias paralelas ou outros focos, tudo é centrado no casamento que está se dissolvendo.

Dessa forma, toda a atenção do espectador também está voltada para as atuações. O casal principal usou de muita improvisação e contou com o apoio do roteirista e diretor Derek Cianfrance. Ele alterou o texto diversas vezes e também trabalhou muito com a preparação dos atores. Ryan Gosling e Michelle Williams chegaram, inclusive, a morar na mesma casa por um mês para criarem certa intimidade e aprenderem a brigar um com o outro. Outro aspecto interessante é que, após a morte de Heath Ledger, o filme foi adiado por dois anos, de modo que Michelle (que teve uma filha com o ator) pudesse estar melhor preparada psicologicamente para o papel.

Além disso, a caracterização dos personagens também merece destaque. Por alterar constantemente entre diferentes momentos da vida dos protagonistas, ela recebe mudanças no cabelo e na maquiagem que deixam claro que se passaram alguns anos. Já Ryan Gosling parece ter recebido o impacto da idade com maior força. Careca e com a barba por fazer, o visual de Dean foi baseado no próprio diretor do filme, mas acaba deixando mais clara a diferença entre os personagens, que já não parecem combinar de nenhuma maneira.

Construído de maneira a acumular desentendimentos e tensões, Blue Valentine começa com um ritmo lento e vai acelerando até atingir uma velocidade descontrolada – e bater em um poste. Não que o filme seja uma tragédia, mas ele traz uma constante soma de novos elementos que aumentam a tensão até o último instante. Para quem puder, recomendo ver o filme sem pausas (eu, infelizmente, fui vítima de um DVD com problemas).

Embora tenha uma premissa simples e até cotidiana, Blue Valentine ganha muitos pontos pela maneira como conta a sua história e por mostrar que ninguém está completamente certo ou errado. Os personagens não são fantásticos, muito pelo contrário, são pessoas reais. E isso é realmente algo muito difícil de encontrar nos filmes.

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