Divagações: Hit and Run

Carros envenenados, perseguições, música estilosa, um elenco relativamente desconhecido e um orçamento minúsculo. Francamente, quando ess...

Carros envenenados, perseguições, música estilosa, um elenco relativamente desconhecido e um orçamento minúsculo. Francamente, quando essas características se juntam em um filme ou estamos diante de um grande sucesso ou de um imenso fracasso. Posso dizer que até estava curioso em descobrir em que ponto desta escala Hit and Run se encaixava. Afinal de contas, um filme que custou apenas dois milhões de dólares – metade disso apenas na trilha sonora – e mesmo assim chegou ao grande circuito deve ter algum mérito, não é?

Annie Bean (Kristen Bell) é uma professora colegial que recebeu a oportunidade de assumir o emprego de seus sonhos em uma universidade de Los Angeles, porém, há um grande problema para que isso aconteça. Seu namorado Charlie Bronson (Dax Shepard, também diretor e roteirista) é na verdade Yul Perkins, participante do programa de proteção a testemunha do governo americano, que deixou há quatro anos a vida em Los Angeles para se esconder no interior da Califórnia.  Quando Charlie resolve levar Annie para sua entrevista de emprego, as coisas começam a rumar para a catástrofe, colocando a polícia, um trio de criminosos e o ex-namorado paranoico de Annie, Gil Rathbinn (Michael Rosenbaum) em seu encalço.

Apesar do baixo orçamento, como já havia dito, é surpreendente como a equipe conseguiu realizar um filme com cenas de ação competentes – apesar de não serem estas exatamente incríveis – sem comprometer a qualidade da produção no geral. Temos perseguições que conseguem empolgar, apesar de usarem alguns truques visuais que claramente visam baratear as cenas. O roteiro tem algumas boas sacadas e um punhado de diálogos bastante engraçados para quem curte esse tipo de humor.

No entanto, tenho a impressão que alguma coisa ficou faltando em Hit and Run. O filme ainda precisa de um algo a mais que efetivamente faria com que esse fosse um daqueles clássicos cults com criminosos disparando tiros e palavrões a cada cena. Falando nisso, senti uma considerável vontade da direção em um esforço no sentido de ‘quero ser Guy Richie’, principalmente na tentativa de se criar uma estética própria através da música, edição e dos diálogos. Infelizmente, essa não se mostrou uma escolha tão encaixada ou interessante como poderia ser.

Contudo, isso não prejudica o resultado final de modo irremediável, muito pelo contrário. Hit and Run é um filme bastante interessante e divertido, apenas um pouco decepcionante devido a todos os fatores que ‘poderiam ter sido’. A química entre Dax Shepard e Kristen Bell funciona muito bem – mesmo que a atuação de ambos seja questionável, levando em conta que os dois são realmente namorados – e se desenvolve de um modo verossímil, algo que não vemos no cinema com frequência. Os coadjuvantes também funcionam bem, tendo todos características muito fortes, que compõe a trama como um todo.

Apesar de não ser um filme excelente e ficar até abaixo da média para quem não é muito fã do gênero, tenho de elogiar a iniciativa de Hit and Run justamente porque o filme conseguiu, de algum modo, prosperar como uma produção pequena em um mar de blockbusters. Se você se interessa por todas aquelas características que eu apontei anteriormente, certamente esse é um filme que merece uma chance. Só não espere nada especialmente original ou fantástico, já que para um filme que poderia muito bem ser uma bomba, uma produção competente já é surpresa o suficiente.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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