Divagações: Ruby Sparks

Não consigo afastar um sentimento um pouco complicado em relação a Ruby Sparks . Para mim, esse é o tipo de filme cuja ideia, pelo meno...

Não consigo afastar um sentimento um pouco complicado em relação a Ruby Sparks. Para mim, esse é o tipo de filme cuja ideia, pelo menos de início, parece ser muito boa e interessante, mas que vai se tornando cada vez menos atrativa conforme você começa a digerir o conceito e perceber o quanto a execução não se afasta muito de outros referenciais cinematográficos que temos. Não que eu tivesse expectativas negativas, mas simplesmente preferi entrar na sala de cinema um pouco na defensiva.

Calvin Weir-Fields (Paul Dano), é um jovem escritor com visual de hipster e um passado como garoto prodígio do mundo literário. Porém, depois do fim de relacionamento desastroso, ele é assolado por um bloqueio literário tão grande que acaba procurando ajuda psiquiátrica com o Dr. Rosenthal (Elliott Gould). O médico sugere ao rapaz um exercício para ajudá-lo a superar o seu problema e é através deste exercício que o jovem imagina Ruby Sparks (Zoe Kazan, que também é a roteirista do filme), uma garota meiga, bonita, divertida e basicamente perfeita para Calvin. O que ele não esperava é que acabaria se apaixonando por sua própria criação e, ainda pior, que um dia ela fosse aparecesse em sua casa como uma pessoa real, o levando a questionar a própria sanidade e o significado de se relacionar com alguém.

Ruby Sparks inegavelmente tem boas ideias, uma boa equipe técnica e bons atores. Tenho de elogiar Paul Dano, que certamente vai crescendo como ator durante o filme – da leveza do início à carga dramática um pouco abusiva que vai se escalando até a conclusão. A fotografia e a direção também estão de parabéns, com truques de narrativa e enquadramento bastante interessantes e que agregam valor à obra. Porém, infelizmente, não consegui sentir que ao final o filme entregou tudo que poderia. Ficou aquele sentimento um pouco incomodo de que ficou faltando um fechamento mais coeso com o resto da trama.

Acredito que o maior pecado de Ruby Sparks é tentar dar uma mordida maior que a própria boca, pois o filme se esforça muito para passar uma mensagem bem mais profunda do que todo o contexto traz. Apesar de suspeitar que a direção sabia muito bem que há uma dose de pretensão envolvida na narrativa, sinto que talvez o filme poderia se beneficiar de um feeling um pouco mais brando. Sua estrutura fechada em três atos, bastantes diferentes uns dos outros, soa um pouco arrastada e engessada e talvez fosse mais proveitosa se trabalhasse com valores mais universais ao invés de mostrar o desenvolvimento do personagem principal e de seus problemas.

Ao optar por esse tipo de história, Ruby Sparks mostrou muito menos do que prometia de início. É muito fácil traçar paralelos com outros filmes recentes – como Stranger Than Fiction e o nacional A Mulher Invisível –, que trabalham nos temas da interação do criador e da criatura de modo até mesmo mais bem sucedido do que este. No entanto, ambos os exemplos têm um estilo bem diferente e até mesmo mais descompromissado de lidar com esses valores.

De todo modo, não posso dizer que este é um filme ruim ou não recomendável. Muito pelo contrário, apesar de todos estes problemas, eu me surpreendi com o ritmo ágil da direção e da edição, além da excelente química entre todo o elenco. Só fiquei um pouco decepcionado com a maneira como toda a conclusão se deu, mas isso não tira o valor do filme e não impede que muitos tenham gostado da trama em sua totalidade. Se você estiver curioso para vê-lo no cinema nessa entre safra de grandes filmes, vale uma pipoca e uma boa companhia.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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