Divagações: Jack the Giant Slayer

Um defeito que margeia todos os filmes de contos de fadas que vimos recentemente nos cinema é o excessivo foco em ressaltar como eles pod...

Um defeito que margeia todos os filmes de contos de fadas que vimos recentemente nos cinema é o excessivo foco em ressaltar como eles podem ser densos ou sombrios. Não é que tenha algo errado nisso que, por sinal, é o tipo de releitura necessária em uma história que já está enraizada em nossa cultura, mas há um esforço tão grande que parece deixar de lado aquele apelo meio universal das fábulas. É como se uma aproximação dessas histórias com a nossa realidade fosse incompatível com uma saudável pitada de ingenuidade.

Dessa forma, na contramão de Hansel & Gretel: Witch Hunters – que quis agradar um público mais crescido com uma porção farta de violência –, Jack the Giant Slayer é claramente um produto pensado para uma audiência um pouco mais abrangente, resgatando aquele gostinho por uma aventura familiar fantástica, tal como o que tínhamos em clássicos como The Princess Bride.

Assim como na fábula, Jack (Nicholas Hoult) é um jovem camponês que, por um acaso do destino, acaba colocando as mãos em um punhado de feijões mágicos. As similaridades, contudo, ficam na premissa, já que há a adição de Isabelle (Eleanor Tomlinson), uma princesa descontente com o seu casamento arranjado com o nobre Roderick (Stanley Tucci) e com a superproteção de seu pai, o rei Brahmwell (Ian McShane). Os caminhos de Isabelle e Jack acabam por se cruzar justamente quando os feijões mágicos entram em cena, colocando-a em um grave perigo e levando Jack e os soldados do rei, liderados pelo comandante Elmont (Ewan McGregor), em uma arriscada missão de resgate.

Jack the Giant Slayer não é exatamente um filme inteligentíssimo e cheio de grandes sacadas, pelo contrário, é um tipo de narrativa muito simples onde não há muito espaço para a sutileza. Fica muito claro quem são os heróis e os vilões, seus planos e motivações, de modo que se explora muito pouco o desenvolvimento dos personagens. Apesar dessa bidimensionalidade, a trama flui bem – inclusive com algumas surpresas e decisões narrativas interessantes que eu não esperava ver nesse tipo de obra. Porém, não há nada que efetivamente abale o status quo da produção, já que você percebe claramente como a história vai acabar.

Visualmente, o filme é bem menos impressionante do que prometia, mas não é o tipo de decepção que recai sobre a qualidade dos efeitos visuais. Por sinal, eles são bem competentes, com um bom uso do 3D, claramente feito para empolgar as crianças. Entretanto, a direção de arte é sem personalidade e não consegue deixar no filme nenhuma característica notável. Enquanto seus concorrentes tinham na estética ‘densa e sombria’ uma forma de se diferenciar das suas contrapartes originais, aqui o filme fica no meio termo entre uma adaptação e uma releitura, sem realizar bem nenhuma dessas propostas.

Mesmo assim, como filme para toda a família, Jack the Giant Slayer não se sai exatamente mal. A história se desenvolve de modo coerente, os atores – apesar da ausência de um elenco mais sólido – fazem seu trabalho dentro da proposta um pouco caricata do filme e a história não tenta se levar mais a sério do que realmente é. Apesar de ter seus momentos, esse não é o tipo de filme que você vai aproveitar se estiver procurando por algo além de uma simples diversão descompromissada regada a pipoca e refrigerante. Talvez não valha o preço dos caríssimos ingressos de cinema 3D, mas certamente é uma boa escolha para ver com as crianças quando o filme chegar às locadores.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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