Divagações: A Busca

Em um período cheio de filmes de fantasia e infantis, os cinemas recebem uma produção nacional mais dramática. É ótimo ter opções variada...

Em um período cheio de filmes de fantasia e infantis, os cinemas recebem uma produção nacional mais dramática. É ótimo ter opções variadas, mas A Busca parece terrivelmente deslocado em meio a seus ‘concorrentes’. Entre tantas cores, um filme com iluminação estourada parece pálido e sem muito apelo, mas imagino que a campanha forte realizada através da televisão conseguiu chamar a atenção e atrair um público bom numericamente.

A história começa com uma família em crise. Theo Gadelha (Wagner Moura) e Branca (Mariana Lima) estão se separando e o filho dos dois, Pedro (Brás Antunes), está cada vez mais distante dos pais. Às vésperas de seu aniversário, o menino briga com o pai por causa de uma cadeira que ganhou de presente do avô, (Lima Duarte). Pouco tempo depois, ele resolve viajar com um amigo e deixa para trás a promessa de voltar para um jantar em família. Quando Pedro demora em aparecer, os pais descobrem que a viagem era mentira e partem em uma busca desesperada.

Mais centrado na trajetória de Theo, o filme segue pistas que aparecem naturalmente (afinal, o menino está viajando a cavalo), sem muitos exageros ou coincidências forçadas. Com o tempo, as motivações do filho vão se tornando menos importantes frente à missão que o pai coloca para si mesmo. As situações que se seguem podem até ser consideradas como clichês de road movies, mas funcionam bem devidos ao roteiro bem construído.

O trabalho de Luciano Moura e Elena Soarez, aliás, funciona muito bem ao explorar o desenvolvimento do protagonista. O caminho percorrido, além de ser uma busca pelo filho, é também uma procura por uma identidade independente do casamento ou da profissão. Todos os encontros podem ser interpretados de uma forma metafórica, ainda que sejam acontecimentos bastante palpáveis.

Mesmo com um roteiro bem calculado, Luciano Moura é um diretor disposto a experimentar. Principalmente através da fotografia – realizada por Adrian Teijido –, ele coloca seus atores em contraste com o mundo. Às vezes quase apagados pelas sombras ou pelo excesso de luz, os personagens vão se tornando mais nítidos à medida que a história avança. Como produtor, Fernando Meirelles deve ter ficado orgulhoso do resultado final.

Originalmente chamado A Cadeira do Pai, o filme participou de festivais em Sundance e em Estocolmo, tendo o diretor sido indicado ao prêmio do júri no primeiro caso. Embora essa seja uma grande honra, isso não garantiu uma distribuição nacional e a estreia no Brasil chegou mais de um ano depois. Por mais que tenha certo gosto de derrota, esse é um resultado mais do que satisfatório para um diretor estreante no cinema.

No geral, A Busca não surpreende. O filme é executado com competência e o elenco bem escolhido garante que tudo saia como o previsto. Ou seja, é uma obra que funciona e vai um pouco além daquilo a que se propõe inicialmente. Dessa forma, quem quer fugir das aventuras descerebradas tem nesse filme a melhor opção disponível.

Contudo, é preciso acrescentar que o começo arrastado e a história com poucos momentos de oscilação – faltam alívios cômicos ou até mesmo uma tensão mais pronunciada – fazem com que o apelo se distancie do público. Para um filme tão focado no amor de um pai por um filho, um pouco mais de emoção não faria mal, ainda que existisse o risco de se cair em um drama mais pesado.

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