Divagações: Jaws

Em meio a tantos grandes filmes, verdadeiras obras de arte, uma produção de cunho comercial e com pouco valor intelectual se torna essenc...

Em meio a tantos grandes filmes, verdadeiras obras de arte, uma produção de cunho comercial e com pouco valor intelectual se torna essencial para a compreensão da história do cinema. Pode parecer exagerado, mas Jaws foi o primeiro grande blockbuster de verão, abrindo caminho para Star Wars e toda uma nova compreensão do entretenimento.

Quando o filme foi lançado, o diretor Steven Spielberg tinha apenas 29 anos, mas já sabia o que queria. Era um rapaz talentoso, que estava aprendendo a fazer cinema na prática e tinha como principal objetivo dar grandes sustos na plateia. Para isso, ele resolveu adaptar o livro de Peter Benchley, ainda que tenha mudado muita coisa. Já nessa época, demonstrava um gosto especial por efeitos visuais e uma preocupação com as reações do público, chegando a regravar cenas para potencializar seus efeitos ainda mais.

Basicamente, Jaws acompanha o trabalho do chefe de polícia de uma pequena ilha, recém-chegado da cidade grande com a esposa e dois filhos. Brody (Roy Scheider) quer apenas fazer o seu trabalho e decide fechar as praias quando é encontrada uma vítima de ataque de tubarão. Essa atitude logo é impedida pelo prefeito da cidade, Vaughn (Murray Hamilton), que não quer arruinar a temporada de verão, responsável por movimentar a economia da cidade. No entanto, novas vítimas apenas agravam a situação e Brody parte em uma caçada à fera na companhia de um pescador local durão, Quint (Robert Shaw), e um especialista da cidade, Hooper (Richard Dreyfuss).

Embora as cenas na areia sirvam para criar o clima, fazer sangue jorrar e aumentar a tensão, boa parte do filme acontece no mar em um barco simples de pescaria. Isso funciona bem, principalmente porque os três homens têm naturezas muito diferentes e a proximidade serve apenas para intensificar conflitos. O detalhe é que nesse ponto fica mais difícil deixar o tubarão apenas como uma ameaça, havendo a necessidade de mostrar o animal. Para isso, foram alternadas cenas filmadas no fundo do mar e robôs que não foram testados em água salgada e acabaram não funcionando muito bem.

Em longo prazo, os problemas com os tubarões mecânicos se transformaram em uma vantagem para Jaws. Seguindo uma sugestão da editora do filme, Verna Fields, Spielberg decidiu deixar o tubarão presente mais como uma ameaça invisível, o que aumentou a tensão e impediu um envelhecimento precoce do filme. Nas cenas em que ele efetivamente aparece, é perceptível que se trata de um boneco e fica difícil sentir medo. Ainda assim, a tensão criada é tão eficiente que isso pouco importa.

Mexer dessa forma com o público é algo que torna qualquer diretor famoso – Alfred Hitchcock que o diga. Fã do mestre do suspense, Spielberg criou um filme capaz de lotar salas de cinema ao mostrar muito pouco e valorizar os atores. Cada um tem seu momento para falar, contar a origem de seus medos, fascinações ou manias. Depois de desenvolver o medo com relação à fera que vive na água, a caça envolve também lidar com as pessoas ao redor. Parece que o plano será bem sucedido, até que começa a dar tudo errado e o medo cresce novamente.

Se até hoje o filme é capaz de assustar, imagine em 1975. Mesmo com pouco mais de 400 salas exibindo Jaws, a bilheteria estava alcançando números impressionantes. Depois de 78 dias em exibição, ele se tornou a maior bilheteria já registrada até aquele momento, mas ainda tinha menos de 1000 salas. Até hoje, o filme é lembrado em listas que procuram os melhores filmes de terror. Várias edições em DVD já foram lançadas. Há brinquedos em parques de diversões. As pessoas ainda querem assistir! Se isso não define ‘sucesso absoluto’, gostaria de conhecer um exemplo melhor.

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