Divagações: No Direction Home - Bob Dylan

Nem sempre projetos de grandes diretores encontram espaço no cinema, restando para a televisão abrigar alguns. No Direction Home: Bob Dyl...

Nem sempre projetos de grandes diretores encontram espaço no cinema, restando para a televisão abrigar alguns. No Direction Home: Bob Dylan, por exemplo, é um documentário de Martin Scorsese que foi veiculado pelo programa American Masters, no ar desde 1985 pela rede de televisão PBS.

Em dois episódios de 90 minutos são abordados alguns anos da vida do cantor e compositor – de 1961 a 1966 –, que começou como “voz de uma geração” e acabou se estabelecendo como ídolo do rock. São alternadas entrevistas atuais e da época que mostram como foi o período de transição, focando nas referências musicais e nos amigos que surgiram ao longo do tempo.

Com toda essa duração, o ritmo do filme é bem lento e ele não se preocupa em dar respostas prontas. Assim, talvez não seja recomendado ver tudo de uma vez, sendo que um tempo para pensar é altamente recomendável. Não há tentativas de criar humor ou manter a atenção, apenas uma narrativa bem estruturada e fixa, com as vozes relembrando o tempo que passou.

No Direction Home: Bob Dylan não é um filme fácil, não é um entretenimento para pipoca, não é brincadeira. Música, acredite se quiser, é coisa séria. Eu confesso que não costumo acompanhar e, normalmente, deixo esses assuntos para o Raphael Ramirez – do Música na Caixinha –, mas Bob Dylan é um artista que influencia todas as áreas. Quem já viu I'm Not There que o diga!

Obviamente, para os fãs do cantor, o filme acaba sendo um prato cheio, já que Columbia/SME Records, Sony Music e o próprio Bob Dylan abriram seus baús pela primeira vez para um cineasta – privilégio de quem tem boa reputação com astros da música. Dessa forma, o documentário consegue ser mais abrangente que Dont Look Back, que abordava somente a turnê pela Inglaterra.

Entre os principais entrevistados de No Direction Home: Bob Dylan estão Paul Nelson, Allen Ginsberg, Pete Seeger, Bob Neuwirth e Mickey Jones. Além disso, imagens de arquivo incluem Johnny Cash, Rick Danko, Ossie Davis, Woody Guthrie, Martin Luther King, Robbie Robertson, Roy Silver e outras personalidades da época.

Assim, além de trazer um ‘pedaço da vida’ de Bob Dylan, o filme acaba mostrando também o retrato de uma época. Os protestos, os festivais, as opiniões, as mudanças na sociedade... Tudo passa ao lado de Bob Dylan e, como poeta, escritor e músico, ele acaba absorvendo e levando muita coisa para sua arte.

Com tanta coisa, não dá para reclamar da complexidade do filme. Embora ele retrate um período relativamente curto, o objetivo parece estar mais próximo de tentar explicar a pessoa e suas ações em uma determinada fase da vida que um contexto histórico – até porque o cantor parece apenas se deixar levar pelo fluxo. Realmente, o ideal é embarcar e se deixar levar pela maré, evitando julgar tanto críticos, quanto amigos ou admiradores.

No Direction Home: Bob Dylan é o encontro de um grande músico com um grande diretor e o resultado é fantástico! O documentário é muito bem estruturado, com muita música, muitos depoimentos e sem um direcionamento forçado ao espectador (embora ele esteja lá). Ideal para quem gosta de artes diversas.

Em tempo: além de ver ao filme, assista também aos extras do DVD! Eles trazem muitas coisas interessantes, especialmente para quem curte uma boa música.

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