Divagações: When Harry Met Sally...

Sendo um gênero cheio de clichês e facilmente esquecível, a comédia romântica pode conseguir bons resultados nas bilheterias, mas dificil...

Sendo um gênero cheio de clichês e facilmente esquecível, a comédia romântica pode conseguir bons resultados nas bilheterias, mas dificilmente entrega filmes marcantes, daqueles que permanecem no inconsciente durante muitos anos. Quando isso acontece, pode apostar que você está diante de um filme delicioso, charmoso e nem um pouco cansativo – e esse é o caso de When Harry Met Sally...

Embora você já saiba como será o final desde o princípio, a história é apresentada como sendo completamente não usual. Vários casais de idade relatam suas histórias de amor, enquanto Harry Burns (Billy Crystal) e Sally Albright (Meg Ryan) vivem encontros e desencontros, em uma antipatia crescente. Ele é um cara relaxado, cheio de teorias sobre como as pessoas são (algumas delas são bem machistas, inclusive) e que gosta de uma perspectiva depressiva, enquanto ela é metódica, detalhista e quer poder sempre transparecer que é feliz e tranquila.

A relação entre os dois só muda quando ele e a esposa se divorciam mais ou menos na mesma época em que ela e o namorado também se separam. A velha rivalidade vira uma amizade intensa, ainda que eles demorem a perceber que possam existir outros sentimentos – mesmo quando os melhores amigos de ambos acabam se apaixonando.

Por mais que não haja de especialmente criativo nessa premissa, o filme consegue bons resultados através do roteiro sensível e, ao mesmo tempo, ágil de Nora Ephron. Aliás, a protagonista foi baseada nela mesma, inclusive em seu jeito muito detalhado de pedir comida em restaurantes. Já Harry foi inspirado na fase depressiva que estava sendo vivida pelo diretor Rob Reiner. Na vida real, contudo, não houve um romance entre os dois.

Passado em Nova York, não é raro que o filme seja confundido com um trabalho de Woody Allen. Ainda que o humor e a forma com que o gênero é tratado sejam diferentes, essa importância dada aos diálogos e o enfoque nos personagens, que só aparecem em seus momentos de folga – aparentemente, todos são bem sucedidos profissionalmente e trabalham muito pouco – fazem com que o equívoco seja compreensível. Se isso acontecesse com um filme meu, eu interpretaria como um elogio.

Aliás, outro elemento que funcionou muito bem em When Harry Met Sally... foi o elenco. Billy Crystal está bem contido no papel e seu humor acabou sendo passado adiante (a famosa frase “I'll have what she's having” foi uma sugestão dele). Já Meg Ryan está no auge de sua fofura, desfilando com uma variedade de penteados absurdos a medida que os anos se passam.

Claro que nada é perfeito e é preciso admitir que Ryan dá uma exagerada no tom durante as cenas que exigem mais dramaticidade. No entanto, isso é perdoável, pois apenas ela seria capaz de tornar absolutamente adorável uma personagem que poderia ser muito irritante (a propósito, a cena em que Sally finge ter um orgasmo foi uma ideia da própria atriz).

Dessa forma, com tantos profissionais criativos trabalhando lado a lado, não é à toa que When Harry Met Sally... tenha tido um resultado tão positivo, inclusive surpreendendo nas bilheterias da época. Não se trata de um romance repleto de paixão, já que eles demoraram mais de dez anos para perceber que foram feitos um para o outro, mas uma história de carinho e amor. Algo mais singelo, delicado e raro de aparecer no cinema.

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