Divagações: Anchorman - The Legend of Ron Burgundy

Como jornalista, resisti um pouco para assistir a Anchorman: The Legend of Ron Burgundy . Ouvi muitos elogios com relação ao filme, é ver...

Como jornalista, resisti um pouco para assistir a Anchorman: The Legend of Ron Burgundy. Ouvi muitos elogios com relação ao filme, é verdade, mas Will Ferrell (que também é o roteirista) não consta na minha lista de humoristas favoritos e uma comédia de 2004 não estava entre as minhas prioridades (a lista de filmes que eu gostaria de assistir só cresce!). Contudo, a empolgação de vários conhecidos com relação a Anchorman 2: The Legend Continues fez com que eu buscasse mais informações sobre o filme.

A história se passa durante a década de 1970, quando os noticiários televisivos eram dominados por homens. Em San Diego, Ron Burgundy (Ferrell) é o apresentador do jornal líder em audiência, mas ele se sente ameaçado pela chegada de uma bela e competente jornalista chamada Veronica Corningstone (Christina Applegate), que sonha em assumir o posto de âncora.

O filme funciona muito bem em mostrar o universo absurdo de Burgundy, com a estúpida rivalidade com outros canais da cidade, sua imensa popularidade nas ruas, os conteúdos vazios da atração e os colegas dependentes dele. Brian Fantana (Paul Rudd) é um repórter de campo que se acha sedutor, Champ Kind (David Koechner) é um caricato jornalista esportivo e Brick Tamland (Steve Carell) é um homem do tempo com problemas mentais (sério!).

Tudo essa ambientação tem a sua graça, mas o filme se concentra nas situações desconfortáveis vividas por Veronica. Na posição de uma mulher em um ambiente masculino, ela sofre muito preconceito, no entanto, por ser supostamente mais inteligente que os colegas, as ‘brincadeiras’ se transformam em comédia. Para o filme não virar assunto sério, ela também não assume uma posição muito firme e luta por seus direitos, deixando a história lidar com a situação.

Anchorman: The Legend of Ron Burgundy, na verdade, não é um filme muito correto e faz várias piadas capazes de deixar as pessoas desconfortáveis – ao mesmo tempo, não se pode negar que o humor sempre teve resquícios de crueldade. O andamento das situações, contudo, faz com que as coisas sejam suavizadas antes do final e os espectadores não fiquem com um sentimento dúbio. É tudo muito exagerado e caricato para ser crível, de modo que a fórmula cômica acaba funcionando bem.

A propósito, as caracterizações ajudam bastante na criação do clima. Os figurinos apostam na breguice e San Diego parece uma cidade interiorana de porte médio, onde as pessoas se conhecem e há uma espécie de sentimento patriótico. Só não me perguntem o porquê de existirem tantos canais de televisão nesse lugar! Inclusive, acho até que poderiam ser contadas histórias paralelas dos outros âncoras, que contam com participações especiais de Vince Vaughn, Tim Robbins, Luke Wilson e Ben Stiller.

Sem ficar (totalmente) preso ao politicamente correto e apostando em coisas que sempre dão certo (como bigodes absurdos), Anchorman: The Legend of Ron Burgundy brinca com assuntos importantes e personagens que normalmente seriam sérios, o que faz parte do humor. Assim, o filme funciona bem e faz rir. Só espero que a continuação mantenha essa linha e não extrapole (demais) a linha tênue que divide a comédia e o bom senso.

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