Divagações: Okami Kodomo no Ame to Yuki

Em plena moda dos vampiros, o diretor e roteirista Mamoru Hosoda apostou nos lobisomens. Na verdade, embora essas criaturas às vezes apa...

Em plena moda dos vampiros, o diretor e roteirista Mamoru Hosoda apostou nos lobisomens. Na verdade, embora essas criaturas às vezes apareçam nas mesmas obras que as criaturas de caninos acentuados, o enfoque é completamente diferente. Ao invés de apelarem para a sexualidade ou para a força bruta, os protagonistas dessa animação são crianças que buscam por seu lugar no mundo.

A história de Okami Kodomo no Ame to Yuki começa quando a jovem universitária Hana (Aoi Miyazaki) se encanta por um jovem quieto e retraído (Takao Osawa). Quando os dois começam a se envolver, ele revela sua verdadeira natureza: é um lobisomem. Mesmo espantada, a jovem dá continuidade ao romance, chegando a ter dois filhos antes de uma tragédia deixar as crianças sem o pai.

Sem saber como criar dois pequenos lobinhos ainda sem controle sobre suas transformações, Hana decide abandonar a vida na cidade e se mudar para um local isolado, contudo, mais olhares se voltam para o que ela está fazendo na pequena comunidade rural. As duas crianças são Yuki (Haru Kuroki), uma menina cheia de energia, e Ame (Yukito Nishii), um menino quieto e muito apegado à mãe. A partir de certo ponto, o filme se volta para o crescimento deles e suas transformações em adolescentes.

Mesmo com o nome dos dois jovens lobisomens no título, o filme explora melhor a mãe deles. Abnegada e dedicada, Hana coloca todas as suas energias em fazer o que é melhor para as crianças, de modo que a jornada deles se transforma também na dela. Embora não seja um ponto de vista muito comum (ou muito alegre), ele é válido e traz certo encanto para Okami Kodomo no Ame to Yuki.

Para quem está mais acostumado com os trabalhos do Studio Ghibli, talvez a qualidade de animação nesse caso pareça um pouco mais fraca, mas garanto que ela ainda é muito boa e isso não chega a incomodar. A única inconsistência mais marcante é a forma como as crianças se parecem quando são lobos – os demais animais possuem traços bem realísticos enquanto elas permanecem com uma aparência humanoide.

Com prêmios em festivais e concursos da Espanha, da Noruega e do Japão, Okami Kodomo no Ame to Yuki também foi um sucesso de público em seu país. O filme é bastante sensível e merece esse reconhecimento, embora deva encontrar algumas dificuldades para cair no gosto dos brasileiros. Sem piadas, músicas marcantes ou apelo para crianças pequenas, a vida de uma animação fica bem difícil.

De qualquer modo, o filme é uma experiência bem interessante para quem gosta de enxergar as coisas a partir de um ângulo diferente, saindo um pouco do esperado. Aqui, um final feliz não é unanimidade para todos os personagens, o sacrifício é visto com bons olhos e a cena da despedida do pai é um pouco chocante. Ao mesmo tempo (e contra todas as possibilidades), a infância é feliz, energética e inocente como deveria ser.

Okami Kodomo no Ame to Yuki é para quem acredita que uma família, mesmo com todas as suas excentricidades, é capaz de qualquer coisa, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Talvez os pais gostem mais do que as crianças, mas um dos principais resultados é abrir os olhos de filhos de qualquer idade.

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