Divagações: The Lincoln Lawyer

O sistema de justiça estadunidense é diferente do brasileiro em muitos pontos – alguns bons e outros nem tanto. Ainda assim, ouso dizer q...

O sistema de justiça estadunidense é diferente do brasileiro em muitos pontos – alguns bons e outros nem tanto. Ainda assim, ouso dizer que as coisas por lá parecem mais animadas! Através da literatura e do cinema, é possível entrar em contato com várias questões interessantes, uma vez que advogados, promotores e criminosos sempre parecem cheios de táticas, contatos e segredos, rendendo histórias com boas reviravoltas.

The Lincoln Lawyer, por exemplo, mostra um aspecto não muito positivo desse modelo de justiça. Mick Haller (Matthew McConaughey) é um advogado especializado em livrar gente barra pesada da cadeia. Ele faz muito dinheiro, mas não se preocupa em ter um escritório, atuando diretamente do carro (um Lincoln, o que explica o título). Entre seus principais amigos estão o investigador Frank Levin (William H. Macy) e sua ex-mulher e mãe de sua filha, Maggie McPherson (Marisa Tomei).

Em um dia agitado, um caso excelente chega às mãos de Haller: um menino rico e mimado chamado Louis Roulet (Ryan Phillippe) está sendo acusado de espancar uma prostituta (Margarita Levieva), mas alega inocência. Aparentemente simples, o caso vai ganhando mais dimensões e começa a pesar na consciência do advogado, atormentado com a ideia de não saber mais reconhecer a inocência. Além disso, ele precisa enfrentar a tradicional batalha contra a acusação, representada por Ted Minton (Josh Lucas).

Com uma trajetória interessante e uma personalidade marcante, o protagonista de The Lincoln Lawyer consegue salvar um filme que, caso contrário, não teria muita graça. O mistério é resolvido cedo demais, a tensão não cresce como deveria e o dilema principal, por mais que seja compreensível, não é bem explicado. Com razão, o diretor Brad Furman apostou todas as suas fixas no carisma de McConaughey, que lança seus melhores sorrisos de cafajeste e fica muito bem tanto de terno quanto sem camisa (sim, há uma cena, mas ela é curta). Ryan Phillippe, por sua vez, também poderia ter chamado atenção, mas acaba estranhamente apagado em cena.

Longe de ser um filme de ação, essa é uma obra sobre tribunais, criminosos e o estranho charme da vida nas ruas. Assim, meninos que gostam de carrões, roupas caras e jogo de cintura (figurativo, não literal) não vão se arrepender de ter deixado de lado algum herói cercado de efeitos especiais, mulheres bonitas e perseguições com diversos meios de transporte.

Embora tenha seus defeitos, não se pode dizer que o filme seja ruim. Para quem gosta do gênero, é uma boa experiência, bem diferente da que se pode obter com as adaptações dos livros de John Grisham, por exemplo. Embora tenha mais experiência com séries de televisão, o roteirista John Romano conseguiu deixar a história bem fluída, adaptando a história de Michael Connelly – que tem mais um livro com o personagem e foi o responsável pela escolha de Matthew McConaughey para o papel.

No final das contas, The Lincoln Lawyer cumpre seu papel com elegância e todo o charme possível. O carro antigo, o sorriso, os amigos e o jeito de ser do protagonista fazem com que o espectador o admire, ainda que questione sua moral. Contudo, não se vê um personagem inteligente todos os dias. O resultado é um filme agradável, que não dá dores de cabeça ou compromete a sua diversão, mas proporciona algo diferente dos colegas de prateleira.

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