Divagações: The Hunt for Red October

A Guerra Fria, um conflito não declarado, formado pela tensão e por batalhas paralelas (entre outras coisas) é ideal para a literatura, o...

A Guerra Fria, um conflito não declarado, formado pela tensão e por batalhas paralelas (entre outras coisas) é ideal para a literatura, onde se pode expressar em palavras os sentimentos e pensamentos de muitos personagens em situações diversas. O escritor Tom Clancy, por exemplo, uniu esse contexto a seu jeito detalhista de ser e criou tramas intricadas e inteligentes, daquelas que fazem a pessoa perder o ponto do ônibus porque simplesmente não consegue parar de ler.

Como o cinema é apaixonado por livros, The Hunt for Red October se tornou um filme em 1990 (seis anos após sua publicação) pelas mãos do diretor John McTiernan e dos roteiristas Larry Ferguson e Donald Stewart. A trama acompanha dois lados. De um, está o comandante russo Marko Ramius (Sean Connery), que tem nas mãos um submarino russo capaz de passar despercebido pelos radares estadunidenses. Do outro lado, está o analista Jack Ryan (Alec Baldwin), que acredita conhecer as verdadeiras intenções do capitão.

Equilibrando essas duas histórias paralelas, o filme faz algo que não se vê todo dia. Afinal, eles não se antagonizam de forma alguma, mas se complementam. Ramius é determinado, um tanto quanto cruel e abusa de seus subordinados. Embora ele não saiba, precisa da ajuda de Ryan, que é um pouco atrapalhado, depende da aprovação de outros para quase tudo e não parece ter muita experiência prática. Em comum, os dois são homens inteligentes e capazes de interpretar as situações a partir de um quadro mais amplo.

Apenas essa questão já seria interessante, mas os desafios de ambos são acompanhados por bons coadjuvantes (outra coisa rara de se ver). No submarino russo, Vasili Borodin (Sam Neill) é um capitão leal, mas que está por dentro do esquema, enquanto Yevgeniy Petrov (Tim Curry) é um médico preocupado, aparentemente pouco confiável e consciente de que algo está errado. Já no lado dos Estados Unidos, Bart Mancuso (Scott Glenn) é o capitão que decide dar um voto de confiança para seu experiente técnico, Seaman Jones (Courtney B. Vance); Greer (James Earl Jones) é o cara que confia no trabalho de Ryan; e Jeffrey Pelt (Richard Jordan) tenta lidar com a diplomacia russa.

Infelizmente, os efeitos especiais de The Hunt for Red October envelheceram mal. As cenas ‘externas’ dos submarinos não são muito boas e os lançamentos de torpedos (assim como as consequentes explosões) atrapalham um pouco o ritmo por quebrarem com o realismo dos cenários. Os efeitos mais práticos, a propósito, continuam razoáveis e o truque de utilizar cores diferentes na iluminação de cada submarino ainda ajuda bastante o espectador.

Passada em grande parte dentro de submarinos, a produção precisa – e muito – de personagens interessantes. Afinal, não há janelas, espaços amplos, correrias e perseguições emocionantes, mas salas apertadas, curvas cronometradas e oficiais se submetendo a pessoas de patentes superiores. A tensão se forma durante as situações e consegue se sustentar por bastante tempo dessa forma graças ao bom texto e ao elenco bem escolhido, garantindo a qualidade da produção.

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