Divagações: Casino

Ainda há espaço para filmes experimentais com um bom orçamento e atores reconhecidos no elenco? Não sei, mas obras mais autorais ainda er...

Ainda há espaço para filmes experimentais com um bom orçamento e atores reconhecidos no elenco? Não sei, mas obras mais autorais ainda eram possíveis em 1995, quando Martin Scorsese dirigiu Casino. Além de ser diferente de qualquer coisa que você já tenha visto, o filme ainda recebeu uma indicação ao Oscar (na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante), além de ter rendido mais de nove milhões de dólares em seu final de semana de estreia.

Ao invés de focar nos diálogos, Casino é quase totalmente narrado em primeira pessoa por dois de seus personagens. Um deles é Sam 'Ace' Rothstein (Robert De Niro), um apostador muito inteligente que vai subindo na ‘carreira’ até se tornar o gerente de um dos maiores e mais importantes cassinos de Las Vegas.

Um dos melhores amigos de Ace é valentão Nicky Santoro (Joe Pesci), que começou a usar de truculência para fazer cobranças e acabou criando uma espécie de filial da máfia em Las Vegas. Além de todas as encrencas que mexer com pessoas muito poderosas – e o dinheiro delas – envolve, ainda surge a figura de Ginger McKenna (Sharon Stone), uma prostituta de luxo (e boa apostadora) que cai nas graças de Rothstein.

Para completar, o filme se passa nos anos 1970, de modo que Scorsese investiu em um visual a altura. Além de instruir com cuidado o diretor de fotografia Robert Richardson, ele também não economizou nos cenário (o filme foi realmente filmado em Las Vegas) e nos figurinos, que são absolutamente fascinantes e dizem muito sobre os personagens.

Baseado em fatos reais e beirando as três horas de duração, o filme exige bastante atenção. As relações entre os personagens são intrincadas e há muitos nomes novos aparecendo a todo o momento. Sinceramente, tanta coisa acontece que é normal perder algum detalhe ou não entender certas coisas, ou seja, vale a pena investir em uma segunda assistida (não em seguida, por favor!).

Além disso, não subestime o poder de pesquisa e as referências de Scorsese, que adora lidar com mafiosos e seus esquemas. Embora ele não mencione diretamente o nome das pessoas e dos locais que fizeram parte da história, há fotografias e, principalmente, músicas que dizem muito (nada que uma pessoa normal consiga saber antes de ter pesquisado especificamente sobre o filme). A propósito, o roteiro foi escrito por ele mesmo em parceria com o autor do livro que deu origem à história, Nicholas Pileggi.

O elenco também é um espetáculo. Sharon Stone encanta, hipnotiza e enlouquece, mostrando que sabe atuar e fazer acontecer. Já Joe Pesci repete suas características já conhecidas e entrega um trabalho competente e marcante, mesmo que não seja inovador. Por fim, De Niro utiliza de sutileza e pequenos detalhes para tornar seu personagem crível mesmo com todas as transformações que ele sofre durante a trama.

Obviamente, piscar não é uma opção quando se assiste a Casino. Pode-se imaginar que a narração em off e a longa duração tragam sono, mas a história prende a atenção com classe – ainda que acompanhada por uma dose básica de violência. São pessoas inteligentes e perigosas lidando umas com as outras em uma terra sem lei, repleta de dinheiro fácil e onde praticamente qualquer coisa pode acontecer.

Outras divagações:

RELACIONADOS

0 recados