Divagações: Frances Ha

Quem disse que o público brasileiro não gosta de legendas, filmes em preto e branco, produções independentes e experimentações? Obviament...

Quem disse que o público brasileiro não gosta de legendas, filmes em preto e branco, produções independentes e experimentações? Obviamente, as produções com maior investimento em marketing conseguem alcançar números mais amplos, mas o fato de Frances Ha ter aparecido nos cinemas por aqui e conquistado sua fatia de público mostra que as pessoas gostam de ver algo que as surpreenda. Bom, não é justamente para isso que costumamos ir ao cinema?

Frances Ha conta a história de uma jovem chamada Frances (Greta Gerwig). Ela está com 27 anos e ainda luta para se firmar como uma dançarina profissional no concorrido mercado de Nova York. Ao mesmo tempo em que enfrenta sérias dificuldades profissionais (e financeiras), ela também vê a vida de sua melhor amiga, Sophie (Mickey Sumner), mudar de direção. As duas costumavam morar juntas e se divertir um bocado, mas Sophie acaba se afastando e tornando mais sério seu relacionamento com Patch (Patrick Heusinger), enquanto Frances termina seu namoro, é dispensada das tradicionais apresentações natalinas e começa a diminuir suas exigências para apartamentos.

Por mais que a vida da protagonista não ande as mil maravilhas, Frances é uma moça cheia de vida e capaz de enfrentar tudo com bom humor, o que torna suas desventuras bem mais leves. Acredite, mesmo com essa sinopse, o filme está mais próximo de ser uma comédia que um dramalhão. Fica claro que Frances não é a dançarina mais talentosa da companhia, mas ela é esforçada e está disposta a enfrentar tudo o que for necessário para seguir seu sonho. É uma lição bem valiosa, afinal, nem todos nascem com um imenso e mágico talento.

Filmado completamente em preto e branco, o filme consegue apresentar a cidade de Nova York com um aspecto bem diferente do que costumamos ver. Mais nostálgico e até europeu, o local combina com a personalidade de Frances, sua amizade ingênua com Benji (Michael Zegen) e o mundo abastado apresentado por sua colega Rachel (Grace Gummer). A fotografia é muito bem cuidada e a trilha sonora ajuda a manter o clima.

Vale mencionar que o diretor Noah Baumbach também evitou filmar grandes arranha-céus e perspectivas, mantendo todas as imagens centradas em seus personagens, de modo que a cidade não funciona por si mesma e todas as consequências estão a cargo das ações vistas na tela. Essa decisão vai de encontro a toda a filosofia de Frances Ha, que não culpa o mundo pelas coisas que dão errado (ou certo!) com as pessoas.

O roteiro foi escrito por Baumbach em parceria com Greta Gerwig e apresenta um caráter bem pessoal e solto, sem grandes pretensões à primeira vista. Ainda assim, acredito que a produção está destinada a encontrar alguns fãs que a adorem, pois se trata mais um mais um filme sobre um estilo de vida que sobre uma história com começo, meio e fim (embora ele tenha um arco narrativo bem tradicional).

Ou seja, Frances Ha é um filme com um pé no chão e outro no mundo da fantasia. Isso funciona bem, de modo que a produção consegue apresentar as agruras da vida sem amarguras, mantendo a boa e velha ternura que os jovens tanto adoram.


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