Divagações: Little Miss Sunshine

É difícil achar alguém que admite rir da desgraça alheia, mas a verdade é que as coisas ruins podem ser muito engraçadas – os comediantes...

É difícil achar alguém que admite rir da desgraça alheia, mas a verdade é que as coisas ruins podem ser muito engraçadas – os comediantes de stand up sabem muito bem disso. No caso de Little Miss Sunshine você até esquece que os acontecimentos não são exatamente muito legais, afinal, trata-se não somente de uma comédia bem construída, mas também de um filme sobre algo mais bonito e raramente explorado no cinema, a união familiar.

Toda a aventura começa quando a pequena Olive Hoover (Abigail Breslin), uma menina pançudinha e de óculos, descobre que se tornou finalista do concurso de beleza infantil Little Miss Sunshine após a desistência da candidata anterior. O único detalhe é que o concurso acontece em outro estado, o que exige uma viagem.

A princípio, a menina seria acompanhada apenas por sua mãe, Sheryl (Toni Collette) – a única pessoa normal da família –, mas circunstâncias externas incluem na viagem seu pai, Richard (Greg Kinnear), que apostou tudo em uma carreira furada como escritor e palestrante motivacional; seu avô e treinador, Edwin (Alan Arkin), que é viciado em drogas e foi expulso da casa de repouso; seu tio Frank Ginsberg (Steve Carell), que sofreu uma desilusão amorosa, foi demitido e tentou suicídio recentemente; e seu irmão mais velho Dwayne (Paul Dano), um adolescente revoltadinho que fez um voto de silêncio e quer ser piloto de avião.

Todas essas pessoas se juntam por Olive, mesmo sendo perceptível que a menina não tem grandes chances de vencer. Afinal, no fundo, eles também vivem sonhos naufragados, mas a causa dela é mais inocente e merece os esforços. Para completar, durante o trajeto acontecem diversas pequenas reviravoltas e todos têm a oportunidade de crescer, de aprender e de mudar – para melhor – a maneira como se relacionam com os outros membros da família. Isso também fortalece (a níveis absurdos) a vontade de fazer com que tudo dê certo no concurso.

Aliás, esse é o grande mérito de Little Miss Sunshine. O espectador não se importa apenas com a protagonista, mas com todos os seus fiéis companheiros. Por mais que o pai, por exemplo, não desperte muita simpatia nos primeiros momentos, sua jornada faz com que ele melhore em nossos olhos. O mesmo vale para o tio, o irmão e até mesmo o avô.

E tem todo o aspecto cômico da história. Eles viajam em uma Kombi amarela, o que, por si só, já rende muitos bons momentos. As cores, a iluminação e as músicas também favorecem um clima mais leve e engraçado, valorizando tons fortes, dias bonitos e o ato de pegar a estrada e seguir em frente. Além disso, como cada personagem tem seus aspectos caricatos, há muito a ser explorado.

Escrito pelo até então estreante Michael Arndt e dirigido pelos também novatos Jonathan Dayton e Valerie Faris, o filme se beneficia pela junção de mentes talentosas e criativas em um único projeto. Com um orçamento limitado, eles optaram por bons atores (mas nenhuma grande estrela) e deixaram as coisas acontecerem da melhor forma possível. Tanto é que Little Miss Sunshine, mesmo sendo uma comédia, agradou ao público e à crítica, concorreu ao Oscar de Melhor Filme e de Melhor Atriz Coadjuvante (Abigail), e também foi premiado por Melhor Roteiro e Melhor Ator Coadjuvante (Arkin). Vale a pena ver, rever e indicar!

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