Divagações: Lo Imposible

Quando uma grande tragédia acontece, no dia seguinte aparecem livros nas prateleiras, mas demora algum tempo até que a indústria cinemato...

Quando uma grande tragédia acontece, no dia seguinte aparecem livros nas prateleiras, mas demora algum tempo até que a indústria cinematográfica fale sobre o assunto. É um respeito misturado com tabu e, em uma teoria pessoal, com a necessidade de apresentar finais felizes.

Assim, em 26 de dezembro de 2004, uma onda gigantesca surgiu no Oceano Índico e devastou nove países, matando quase 300 mil pessoas. Entretanto, uma das primeiras menções à tragédia no cinema foi apenas seis anos depois com Hereafter, filme de Clint Eastwood sobre pessoas que tiveram experiências de quase morte. Contudo, a produção não era totalmente dedicada ao assunto e tinha um caráter fictício. Já Lo Imposible é baseado na história real de uma família e, por mais que você saiba de antemão que tudo vai ficar bem no final, o filme consegue ser bem perturbador.

Henry (Ewan McGregor) tem um emprego em uma multinacional no Japão e leva a família de férias para uma praia paradisíaca na Tailândia. Sua mulher é uma médica chamada Maria (Naomi Watts), que parou de exercer a profissão para cuidar dos três filhos: Lucas (Tom Holland), Thomas (Samuel Joslin) e Simon (Oaklee Pendergast). Quando o tsunami chega, a família acaba separada. O pai e os dois filhos mais novos conseguem se manter ilesos nas proximidades do hotel. No entanto, Maria e Lucas são arrastados e ela se machuca bastante, restando ao menino cuidar da mãe e tentar seguir em frente.

A luta pela sobrevivência e a busca das pessoas por seus familiares são os principais temas de Lo Imposible, que não tem grande profundidade intelectual, mas traz importantes lições de humanidade. Em especial, a personagem de Naomi Watts surpreende ao educar com carinho e mão firme o filho que já está enfrentando tantos desafios. A trajetória dos dois é a mais sofrida, mas também a mais bonita.

Assim, um grande desafio enfrentado pela produção é criar a tensão, colocar a cena mais forte em aproximadamente meia hora e manter o espectador sentado até o final. A música ajuda muito na primeira parte, os efeitos especiais garantem a segunda e o drama não apenas da família, mas de todos os caminhos que se cruzam, fazem com que tudo corra como deveria. Por mais que o final feliz seja apenas para alguns, os outros não são esquecidos e fica clara a dificuldade de todos os personagens em deixar o trauma para traz.

A propósito, embora apenas Naomi Watts tenha recebido uma indicação ao Oscar, acredito que as equipes de efeitos especiais e de maquiagem também tenham direito a um reconhecimento, já que realizaram trabalhos impecáveis nas cenas da tragédia e nas feridas, respectivamente. Além disso, todo o elenco funciona muito bem, com destaque para Tom Holland, afinal, Lo Imposible não funcionaria se toda a agonia não parecesse real.

Aliás, quem estranhou o nome do filme precisa saber que, embora seja falada em inglês, trata-se de uma produção espanhola, sendo que a família que vivenciou esse drama também era do país. A direção é de Juan Antonio Bayona, a história é de María Belón (esposa de Enrique e mãe de Lucas, Simón e Tomás) e o roteiro é de Sergio G. Sánchez. Provavelmente, a decisão pelo elenco e a língua foi comercial (o que é um pouco triste, mas realístico, uma vez que o dinheiro vem da compra de ingressos).

Dramático sem ser piegas e triste sem forçar lágrimas, Lo Imposible é, basicamente, um filme sobre esperança. É uma história bonita que merece ser contada e deixa claro que podem existir muitas outras semelhantes.

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