Divagações: Guardians of the Galaxy

Para crescer é preciso saber fazer diferente. Enquanto muitos procuram fazer o super-herói realístico que Christopher Nolan (quase) alca...

Para crescer é preciso saber fazer diferente. Enquanto muitos procuram fazer o super-herói realístico que Christopher Nolan (quase) alcançou com Batman Begins e suas continuações, a Marvel Studios decidiu partir em outra direção ao apostar em Guardians of the Galaxy. Sem se preocupar com coisas triviais como as leis da física, por exemplo, o estúdio trouxe uma aventura diferente de tudo o que o público tem visto nos últimos tempos. Foi uma escolha arriscada e, justamente por isso, mais saborosa.

Obviamente, o universo cinemático dos heróis do estúdio não conseguiria se sustentar por muito tempo dentro de uma perspectiva pautada no mundo real. Thor já havia ensaiado essa distorção, mas as coisas só devem sair dos eixos efetivamente a partir de agora. E que venha Avengers: Age of Ultron!

Guardians of the Galaxy conta a história de Peter Quill (Chris Pratt), um jovem terráqueo que foi capturado ainda na infância pelo alienígena Yondu Udonta (Michael Rooker), que acabou exercendo de forma torta a figura paternal. No geral, Quill se vira bem pelos confins do espaço como um ‘saqueador’, mas acaba se dando mal ao roubar de Ronan (Lee Pace), um fundamentalista sedento por poder e parceiro do perigoso Thanos (Josh Brolin). Alvo de uma perseguição, ele acaba encontrando amigos inusitados pelo caminho, como os caçadores de recompensas Rocket (Bradley Cooper) e Groot (Vin Diesel), a lutadora Gamora (Zoe Saldana) e o fortão Drax (Dave Bautista).

Embora a trama seja simples, ela chega a parecer complexa devido a enorme quantidade de informações que vão sendo despejadas da tela. Como essa forma de enxergar o universo nunca foi explorada cinematograficamente antes, há muitos conceitos novos e elementos que poderiam render mais. Resta saber se esse conteúdo realmente vale a pena, mas, para isso, devem aparecer as continuações. De qualquer modo, o trabalho de James Gunn como diretor e roteirista merece elogios, já que ele procurou agradar os fãs ao não poupar detalhes e, ao mesmo tempo, conseguiu não confundir demais a cabeça dos leigos.

Visualmente, tudo é muito bonito e gera curiosidade. Guardians of the Galaxy é caprichado e depende da qualidade dos efeitos especiais para funcionar, especialmente em personagens como Rocket (um guaxinim) e Groot (uma árvore), mas também em detalhes da vilã Nebula (Karen Gillan). Além disso, os cenários também surpreendem e, por mais que possam causar um estranhamento em quem cair de paraquedas no cinema, são essenciais para todo o clima do filme.

A propósito, quem demorar a embarcar na trama não deve se sentir deslocado. A produção lembra muito mais uma aventura descompromissada que um filme de super-herói, embora seja um misto dos dois, e é diferente do que muita gente poderia esperar. Contudo, assim que o público entra em sintonia com o humor próprio de Guardians of the Galaxy, fica difícil não se contagiar. Enquanto muitas tentativas de levar humor para o gênero resultaram em produções bobas, a aposta neste caso foi feita na direção acertada – mérito, mais uma vez, de James Gunn, que escreveu o roteiro com Nicole Perlman.

Com um herói emocionalmente incompleto e repleto de falhas, o filme se beneficia de motivações dúbias para aproximar pessoas comuns e um mundo inacreditável. Por mais que alguns trechos sejam confusos e que o elenco esteja inchado (Djimon Hounsou, John C. Reilly, Glenn Close e Benicio Del Toro aparecem como personagens secundários), o simples fato de não pedir ao espectador que desligue seu cérebro, já conta com uma grande vantagem.

Guardians of the Galaxy é um sopro de ar fresco no vácuo dos filmes de super-heróis lúdicos, engraçados e moralmente questionáveis. Só é uma pena que a maior parte das salas esteja exibindo o filme dublado. No meu caso, valeu a pena esperar e sair do cinema à 1h da manhã apenas para assistir ao filme como ele merece.


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