Divagações: The Birdcage

Realizado há 18 anos, The Birdcage chegou à maioridade mais atual do que nunca. Por mais que a sociedade pareça mais receptiva ao casame...

Realizado há 18 anos, The Birdcage chegou à maioridade mais atual do que nunca. Por mais que a sociedade pareça mais receptiva ao casamento gay, ainda é comum ouvir pelas ruas que se trata de algo ‘nojento’ e, ainda que sejam consideradas polêmicas, frases em repúdio à comunidade gay contam com muitos adeptos. Vale observar que se trata de um remake do longa-metragem francês La cage aux folles, datado de 1978, ou seja, não é de hoje que esses temas são levantados.

Albert (Nathan Lane) e Armand Goldman (Robin Williams) vivem juntos há muitos anos. Eles trabalham em uma casa de shows e criaram um filho, Val (Dan Futterman). Aos 20 anos, o rapaz decide se casar com Barbara Keeley (Calista Flockhart), que é filha de um casal muito conservador, Kevin (Gene Hackman) e Louise (Dianne Wiest). Para evitar problemas, o rapaz pede que seus pais finjam ser uma família ‘normal’ durante o primeiro jantar com seus futuros sogros, o que implica em muitos problemas. Para completar, um escândalo político chama a atenção da mídia, que acompanha todos os movimentos do pai da noiva.

Com bom humor, The Birdcage aborda direito civil, relacionamento, política, preconceito, aceitação, entre outros temas. Muita coisa surge nas entrelinhas e não existe uma ‘propaganda’ – o filme segue com naturalidade, exatamente como deveria ser. A única atitude que merece questionamento é a de Val, mesmo que ele apresente suas justificativas. Seus pais apenas consentem por que o amam, mas fica claro o quanto sofreram para não precisarem mais se esconder.

Obviamente, a produção não consegue fugir dos clichês. Os maneirismos dos personagens surgem a favor do humor, tanto com Albert e Armand quanto com Kevin e Louise. O choque entre essas duas percepções de mundo funciona bem, principalmente porque a graça está nas posições exageradas e extremistas.

Aliás, o fato de The Birdcage ter sido bem recebido na época – e continuar sendo um filme querido pelas pessoas – é um bom sinal para quem gosta de comédias. A produção conseguiu uma indicação no Oscar (Direção de Arte - Decoração) e duas nos Golden Globes (Melhor Filme - Comédia ou Musical e Melhor Ator para Nathan Lane), além de prêmios diversos. Tendo custado pouco mais de US$ 30 milhões, o filme superou a marca de US$ 185 milhões nas bilheterias mundiais (resultado superior ao de Romeo + Juliet, lançado no mesmo ano).

Como frequentemente acontece nas melhores comédias e nos melhores dramas, trata-se de um filme sobre personagens e não exatamente sobre uma trama, o que coloca boa parte da responsabilidade de seu resultado na mão dos atores. Robin Williams, assim, testa suas habilidades em um papel mais contido, enquanto Nathan Lane demonstra abertamente inseguranças e aproveita para fazer drama por todos. Experiente com esse tipo de narrativa, o diretor Mike Nichols sabe tirar o melhor dessa dupla e consegue bons resultados.

Nos Estados Unidos, a história já era conhecida por meio de suas adaptações para a Broadway e o tom teatral não fica oculto, pelo contrário, ele é exaltado. The Birdcage não tem medo de ser o que é e isso é absolutamente maravilhoso. O filme foi redescoberto pelo público após o falecimento de Williams, mas espero que não seja esquecido. É um dos poucos que consegue ser sensível e engraçado nas medidas certas.

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