Divagações: The Boy in the Striped Pyjamas

Muitos filmes passados durante a II Guerra Mundial tendem a caminhar para o dramalhão e, aparentemente, esse também deveria ser o caso de...

Muitos filmes passados durante a II Guerra Mundial tendem a caminhar para o dramalhão e, aparentemente, esse também deveria ser o caso de The Boy in the Striped Pyjamas. Baseada no livro de John Boyne, a produção parece ter sido feita exclusivamente para arrancar lágrimas de pessoas mais sensíveis, com destaques para as mães, tias e avós.

O detalhe é que, no fundo, o filme não é tão triste assim. Vista sempre através dos olhos inocentes de Bruno (Asa Butterfield), a história acaba deixando seu aspecto mais pesado para as entrelinhas. Qualquer um pode entender o que se passa, claro, mas o protagonista mantém sua inocência, o que não deixa de ser algo mais bonito que dramático (obviamente, quem se identifica com personagens secundários pode acabar sofrendo com eles).

Filho de um comandante do exército (David Thewlis), Bruno tem apenas oito anos e é capaz de perceber que sua mãe (Vera Farmiga) está cada vez mais triste e que sua irmã (Amber Beattie) parece distante. Ainda assim, ele não enxerga o que acontece no campo de concentração que fica tão próximo a sua casa. Solitário e curioso, o menino começa uma amizade proibida com o pequeno judeu Shmuel (Jack Scanlon), que mora do outro lado da cerca, o que gera consequências desagradáveis para ambos.

Durante essa trajetória, a construção da família de Bruno é um dos elementos mais interessantes do filme, com a adolescência da irmã, a posição difícil do pai, a excentricidade lúcida da avó (Sheila Hancock) e as ocasionais pequenas descobertas da mãe. Contudo, o único personagem que recebe uma atenção maior é o próprio protagonista e ele tem pouca profundidade a mostrar – embora seja difícil não se encantar com Butterfield e seus maravilhosos olhos azuis.

No fundo, The Boy in the Striped Pyjamas funciona mais como uma ode à inocência e uma lamentação com relação ao mundo dos adultos que como um filme sobre a II Guerra Mundial. Não há um grande aprofundamento no período histórico e, pelo contrário, fica no ar um aspecto nostálgico, com aroma de infância. É quase como um conto de fadas que deu errado, terrivelmente errado.

O final – peço desculpas, mas não há como não falar dele – foi feito para chocar e, assim, acaba sendo desnecessário sob muitos aspectos. Muitas coisas no filme são forçadas, mas o ponto de vista simplista e infantil acaba servindo como desculpa na maior parte dos casos. Também é possível reclamar do sotaque britânico dado aos personagens alemães, mas parece que essa é uma escolha padrão para transmitir a mensagem de que a história se passa na Europa.

Ou seja, não se trata de um grande filme, mas é uma história interessante. O elenco inteiro é ótimo e o diretor (e roteirista) Mark Herman consegue dar conta do recado sem muitos problemas. Como filme, The Boy in the Striped Pyjamas continua sendo um drama ‘para mães’, mas ele pode encontrar carinho ao lado de quem ainda lembra como é ser criança e ter medo do mundo complexo que começa a surgir ao seu redor. Felizmente, não vivemos em um local/período tão turbulento e em circunstâncias tão marcantes.

RELACIONADOS

0 recados