Divagações: 2001 - A Space Odyssey

Longo, cansativo, parado, difícil... 2001: A Space Odyssey é considerado um filme brilhante, mas poucos sabem explicar o por quê e muito...

Longo, cansativo, parado, difícil... 2001: A Space Odyssey é considerado um filme brilhante, mas poucos sabem explicar o por quê e muitos acabam se rendendo apenas aos adjetivos negativos. Com 148 minutos (há variações dependendo da versão), a produção não chega a ser tão comprida, mas a falta de diálogos e o extenso uso de fotografias realmente dá essa impressão.

Com roteiro de Stanley Kubrick e do escritor Arthur C. Clarke (que também lançou uma versão romanceada da história), o filme começa com os primeiros homens descobrindo a utilizar ossos como armas. Para essa descoberta, eles são acompanhados pela estranha influência de um monólito preto.

Muitos anos depois, as viagens espaciais se tornaram comuns e um objeto similar (ou seria o mesmo?) é encontrado na Lua, representando o primeiro indício real de que o ser humano não está sozinho. Após estudar esse achado, cientistas organizam uma expedição até Júpiter. Para isso, os astronautas Dave Bowman (Keir Dullea) e Frank Poole (Gary Lockwood) são acompanhados pelo incrível computador HAL 9000 (Douglas Rain) que, aos poucos, tenta assumir o comando.

Uma crônica sobre o uso de armas, 2001: A Space Odyssey reúne tudo o que há de mais brilhante na forma como Stanley Kubrick faz cinema. Por mais que os cabelos e os figurinos pareçam deslocados, muitas das cenas não devem nada a Gravity, por exemplo, feito 45 anos depois. O diretor estudou formatos e lentes, pesquisou muito e desenvolveu quase todos os efeitos especiais – o que rendeu o único Oscar do filme e de sua carreira (polêmicas autorais à parte), além de ter se tornado praticamente uma autoridade no gênero durante o processo de realização do roteiro.

Obviamente, não dá para negar que é preciso estar bem acordado para acompanhar tudo com a devida atenção. A primeira parte conta com muitas fotografias de paisagens africanas (sim, o nascer e o pôr do sol são estáticos) e nenhum diálogo. Os figurinos são levemente constrangedores – ainda que incrivelmente realísticos para a época – e fica difícil entender qual é exatamente o objetivo, ainda que a história esteja clara. Ainda assim, a trilha sonora com Also sprach Zarathustra, de Richard Strauss, indica que algo muito maior está por vir. É o começo da humanidade como a conhecemos e um passo importante da evolução.

Como consequência desse primeiro movimento, a humanidade chegou ao ponto mostrado na segunda parte do filme, com a sociedade organizada como a conhecemos hoje. Na segunda parte, toda a estratégia de segredo é criada, como uma preparação para a terceira parte. Nesse ponto, o público entra em contato com os principais conceitos de tecnologia e de viagem espacial que serão abordados, de modo que o filme não precise ser muito didático. Vale acrescentar que a trilha sonora continua maravilhosa, com An der schönen blauen Donau, de Johann Strauss II.

Por fim, é na terceira parte que somos apresentados a HAL 9000, provavelmente o personagem mais interessante do filme. Em uma obra que deveria ser sobre a evolução da humanidade e extraterrestres, um robô feito pelo homem foi capaz de gerar muitos questionamentos. Ele é o responsável por muitos conflitos e toma para si uma missão que, a princípio, deveria interessar somente aos humanos (talvez por ele ser a nossa continuação, a nossa criação, a consequência daquele primeiro monólito?).

Mas o filme não acaba nesse ponto. Em uma quarta parte, mais questões são levantadas! Mesmo sem os cientistas, Dave Bowman continua com a missão e acaba viajando entre luzes e conhecendo paisagens estranhas até parar em um quarto decorado em estilo Luís XVI onde o tempo e o espaço se confundem. Após sua morte, ele assume a forma de um feto, chamado (no livro) de criança estrelar, que viaja pelo espaço e olha para a Terra.

Tudo isso é muito complexo, traz várias questões e não se preocupa em explicar muita coisa – tanto é que não faltam teorias tentando tirar mais e mais significados do filme (não é meu objetivo fazer isso aqui). Para quem não está disposto a filosofar, 2001: A Space Odyssey provavelmente não é uma boa opção, mas garanto que o filme é uma escolha adequada para quem quer repensar o papel da humanidade no universo.

Teria sido muito mais fácil se Kubrick quisesse mostrar alienígenas, colocar uma narração explicativa ou simplesmente fizesse mais diálogos, mas ele não diminuía a inteligência de seus espectadores, recusava-se a nivelar seus filmes por baixo (é uma produção para adultos, não para crianças de 12 anos). Pode-se até criticar a falta de desenvolvimento de personagens, mas esse não era o ponto. O objetivo de 2001: A Space Odyssey não era responder, era perguntar. O filme é uma provocação e merece muito mais ser visto como um gancho para discussões mais amplas que como uma obra-prima intocável.

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