Divagações: Harmontown

Para quem é fã da série Community , o documentário Harmontown possui seu apelo. O principal público, no entanto, é o mesmo que já acompa...

Para quem é fã da série Community, o documentário Harmontown possui seu apelo. O principal público, no entanto, é o mesmo que já acompanha o podcast homônimo, comandado pelo roteirista Dan Harmon – que, eventualmente, também assume funções de direção, produção, edição e atuação.

Para o filme, o diretor e roteirista Neil Berkeley acompanhou Harmon e sua equipe durante um tour realizado pelos Estados Unidos, onde o podcast foi filmado ao vivo em diversas cidades. No total, foram 20 dias de estrada, o que parece pouco, mas inclui muitos momentos interessantes, com bebedeiras, brigas, favoritismos e vislumbres da personalidade de cada um dos integrantes do programa. Ou seja, também estão muito presentes o coapresentador Jeff Bryan Davis; a namorada de Harmon, Erin McGathy; e  Spencer Crittenden, um fã que entrou para a equipe e se tornou uma mistura de atração especial e faz-tudo.

Além de acompanhar o grupo na estrada, Berkeley colheu depoimentos de diversas pessoas que trabalham ou já trabalharam com Dan Harmon, como Jack Black, Alison Brie, Gillian Jacobs, Joel McHale, Danny Pudi, Sarah Silverman, Ben Stiller e Jason Sudeikis. Eles acabam apenas adicionando à mítica imagem do roteirista como uma pessoa difícil, mas brilhante – algo que o documentário em si não consegue transmitir a contento.

Ao longo de pouco mais de 100 minutos, vemos Dan Harmon beber, procrastinar, aturar produtores ao telefone, brigar com a namorada, tirar fotos e apresentar seus programas. Ele, sem dúvida, consegue divertir seu público, mas não tem nenhuma manifestação clara de brilhantismo – para isso, é preciso conferir o resultado de seus trabalhos. Obviamente, assuntos como seu temperamento explosivo e inconstante surgem com frequência, assim como seus desentimentos com Chevy Chase e sua demissão de Community, uma série que ele mesmo criou.

Harmontown poderia muito bem cair para o melodrama ou a caricatura, mas é perceptível que se trata de uma tentativa honesta de registrar um ídolo com suas qualidades e defeitos – mas um ídolo, de qualquer forma. O filme não questiona fatos pré-estabelecidos sobre seu assunto principal, embora se importe o suficiente a ponto de mostrar conquistas e falhas na sua carreira. Felizmente, a dinâmica entre o documentarista e seu retratado funciona muito bem e ele consegue extrair respostas honestas e espontâneas (não que Harmon costume ter muitas papas na língua, de qualquer forma).

A edição é simples, mas eficiente. Não dá para esconder o caráter levemente amador e inexperiente do tour, mas também fica clara a boa vontade de todos os envolvidos em fazer algo legal para o seu público. Vale acrescentar, contudo, que o diretor até introduz de forma habilidosa o contexto geral e cada um dos ‘personagens’, mas há pouco apelo para aqueles que não os conheciam de antemão.

Harmontown é um filme agradável, divertido e esclarecedor, mas é um material que tende a não envelhecer bem. Afinal, podcasters podem até cair na estrada, mas suas performances icônicas dificilmente serão tão marcantes quanto grandes shows musicais.

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