Divagações: The Shining

Depois de noir, suspense, drama, aventura, romance, comédia, ficção científica, guerra e alguns outros gêneros cinematográficos, Stanley ...

Depois de noir, suspense, drama, aventura, romance, comédia, ficção científica, guerra e alguns outros gêneros cinematográficos, Stanley Kubrick resolveu se aventurar pelo terror. Para isso, ele foi até um mestre do gênero, adaptando um livro de Stephen King com a ajuda da também escritora Diane Johnson para o roteiro. Mas, obviamente, ele não se contentou em fazer simplesmente o que era esperado.

The Shining não é uma adaptação fiel do livro e muitos criticam o diretor por isso até hoje – incluindo o autor do livro. Ao mesmo tempo, há fãs incondicionais! A produção está no 57º lugar na lista de melhores filmes do IMDb e tem algumas das frases mais memoráveis da história do cinema.

Jack Torrance (Jack Nicholson) é um escritor em busca de inspiração que aceita trabalhar como zelador em um hotel que ficará fechado durante o inverno. Assim, ele se muda com a esposa, Wendy (Shelley Duvall), e o filho pequeno, Danny (Danny Lloyd). Com poderes psíquicos aflorados, o menino é primeiro a perceber que há algo de errado com o lugar, mas não consegue agir antes que seu pai sofra as influências negativas e se torne potencialmente violento.

O detalhe é que nenhum dos três personagens principais é exatamente confiável. Desde o princípio, Jack parece desequilibrado e informações sobre seu comportamento problemático pipocam no decorrer do filme. Danny tem problemas em lidar com seus poderes e não parece distinguir bem entre a realidade e as visões. Já Wendy é frágil e assume rapidamente um comportamento histérico.

Acompanhados por uma trilha sonora propositalmente forçada, esses personagens vivem situações igualmente exageradas, de modo que The Shining não parece decidir se conta uma história de fantasmas ou explora uma trama de loucuras. A estranha forma como o menino se comunica com o ‘amigo imaginário’ e a constante presença de espelhos nas cenas em que o pai tem suas próprias visões valorizam a segunda opção, mas jamais eliminam a primeira.

Também é preciso observar que a produção é repleta de controvérsias. As filmagens, que deveriam durar algumas semanas, acabaram se prolongando por quase um ano. As constantes mudanças no roteiro irritavam Nicholson que, eventualmente, simplesmente parou de decorar suas falas. A equipe foi orientada a não demonstrar simpatia por Shelley Duvall e ela começou a ter crises de choro ao ponto de quase ficar desidratada. E é essa tensão caótica que aparece na tela, algo bem diferente do clima construído aos poucos e de forma calculada, presente na maior parte das produções de sucesso do gênero.

A família retratada parece funcional, mas não amorosa. Não há nenhum ponto em que o espectador pode confiar como sendo ‘real’. Há apenas desespero e incerteza. O hotel é enorme, mas provoca claustrofobia. Na verdade, o local não é tão assustador por ser assombrado, mas por ser uma casa da qual não se pode fugir.

The Shining é absolutamente diferente de qualquer filme que você já viu. Como um terror, dificilmente deixará seus espectadores sem sono, mas, assim como muitas obras do diretor, ele parece melhor a cada vez que é revisto. Não é a surpresa do enredo ou os sustos que fazem do filme o que ele é, mas o quadro total de incertezas e inseguranças.

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