Divagações: He's Just Not That Into You

O que aconteceu com essas comédias cheias de gente, que vivem histórias levemente inter-relacionadas e passam por situações normais da vi...

O que aconteceu com essas comédias cheias de gente, que vivem histórias levemente inter-relacionadas e passam por situações normais da vida de uma forma exagerada, principalmente se isso envolver encontros e desencontros do amor? Há alguns anos, essas produções faziam muito sucesso – e eu conheço pessoas que ainda assistem Love Actually –, mas as coisas começaram a esfriar e produções como Movie 43 (não é exatamente a mesma coisa, eu sei, mas é quase!) fracassaram nas bilheterias.

He's Just Not That Into You é um exemplo clássico desse gênero. Gigi (Ginnifer Goodwin) é uma moça que se apaixona muito, mas muito fácil. Conor (Kevin Connolly) está bem profissionalmente, mas não entende para onde está caminhando seu relacionamento com Anna (Scarlett Johansson), que tem muitos planos, mas não sabe o que quer fazer da vida. Ben (Bradley Cooper) e Janine (Jennifer Connelly) são recém-casados vivenciando o fim do encantamento. Alex (Justin Long) é um cara legal, mas que não quer se envolver com ninguém. Neil (Ben Affleck) e Beth (Jennifer Aniston) moram juntos há anos e ela quer casar, mas ele não. Mary (Drew Barrymore) só sai com caras que conhece online, ainda que isso nunca dê certo. Isso só para citar os personagens principais!

Com um elenco inchado desse jeito, o filme se sai bem ao intercalar várias pequenas histórias que, isoladas, não renderiam muita coisa. Nada é muito aprofundado, mas a intenção é, justamente, permitir que o maior número possível de pessoas se identifique com as situações apresentadas. Como tudo tem certo grau de absurdo para garantir a comicidade, a eficiência é questionável.

O que acontece, contudo, é que He's Just Not That Into You cai em diversas armadilhas. O filme estereotipa seus personagens de modo que todas as mulheres são desesperadas para encontrar/manter alguém, um tanto quanto inconsequentes (em decorrência disso) e consideravelmente machistas. Já os homens são os seres dotados com o poder de escolha, afinal, são eles que ligam – ou não – no dia seguinte. Mas é uma comédia, certo?

Obviamente, esse é um gênero que brinca com estereótipos e o filme merece certo ‘desconto’ por causa disso. O problema é que, ao tratar sobre o único casal que seria uma exceção à ‘regra’, a produção acaba eventualmente cedendo a seus próprios preconceitos. Ela fica sozinha (merecidamente?), enquanto ele volta rapidamente ao ‘jogo’. Além disso, o único homem que acaba o filme sozinho é também o mesmo que se livrou de uma ‘roubada’.

Talvez eu esteja pensando demais sobre algo que não merece é minha atenção, mas a verdade é que He's Just Not That Into You não vai ajudar ninguém a perceber que está agindo errado em sua postura frente a relacionamentos. O filme é divertido porque traz um monte de famosos vivendo momentos constrangedores e porque todo mundo já fez – ou vai fazer – uma bobagem em nome do amor.

Assim, acho que simplesmente não precisamos mais de “comédias cheias de gente, que vivem histórias levemente inter-relacionadas e passam por situações normais da vida de uma forma exagerada”. E a indústria cinematográfica segue em frente!

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