Divagações: Pixels

Não é de hoje que o nome de Adam Sandler se tornou um sinal amarelo em qualquer produção cinematográfica. Embora tenha boas obras em seu...

Não é de hoje que o nome de Adam Sandler se tornou um sinal amarelo em qualquer produção cinematográfica. Embora tenha boas obras em seu currículo, não há como negar que o ator vem passando por uma fase não lá muito boa, engatando uma série de filmes criticamente execrados e de bilheterias mornas, o que o alçou ao posto de ator com o pior custo-benefício de Hollywood. Porém, ainda que tudo indicasse que uma falha catastrófica seria o resultado mais plausível para uma produção como esta, Pixels devia estar fazendo algo de certo, já que conseguiu me deixar genuinamente intrigado.

Mesmo com a direção de Chris Columbus (que também não anda na sua melhor fase, convenhamos), tinha motivos para ter um fiapo de esperança. Afinal, a temática é extremamente simpática para quem, como eu, passou boa parte da infância em meio aos falecidos fliperamas cheios de clássicos das décadas de 1980 e 1990. Pixels demonstrava, meio timidamente, que poderia não ser algo tão terrível se fosse trabalhado com o carinho o e respeito necessário.  Infelizmente, como já diz máxima, na maior parte dos casos a explicação mais provável acaba sendo a verdadeira.

Mas vamos por partes. Brenner (Adam Sandler) era um sujeito que, na infância, foi um dos melhores jogadores de fliperama do mundo, mas que viu na sua vida adulta apenas uma série de decepções e fracassos. Enquanto seu melhor amigo Cooper (Kevin James) se tornou presidente dos Estados Unidos, Brenner amarga um subemprego como instalador de eletrônicos, questionando diariamente o rumo que sua vida tomou.

Tudo muda quando alienígenas resolvem invadir a Terra tomando a forma de personagens de videogame dos anos 1980, cortesia de uma gravação da Nasa mandada para o espaço contendo exemplos da cultura estadunidense da época. Com os militares desorientados e incapazes de proteger o planeta, cabe a Brenner e a outros grandes jogadores de fliperama, como o excêntrico Ludlow (Josh Gad) e o egocêntrico Eddie (Peter Dinklage), salvarem o planeta.

Ainda que a premissa seja boba, ela contém algum charme e até funciona por algum tempo, sobretudo quando os ditos alienígenas ainda não estão em cena. Porém, como um passe de mágica, a maldição de Adam Sandler ataca e o filme se torna cada vez mais estúpido e incoerente, sendo o equivalente cinematográfico a ver um descarrilamento em câmera lenta. Neste caso, tenho de trazer à tona a minha fatídica resenha de Jack and Jill. Ainda que eu seja julgado por ter defendido (em certa medida) esta atrocidade, penso que Jack and Jill teve a honestidade artística de reconhecer que era um filme péssimo em todos os momentos. Pixels passa longe disso, negando-se a admitir falhas óbvias e uma completa falta de sentido. Acreditem: um pouco mais de autoconsciência teria tornado a experiência final muito mais palatável.

Não há o mínimo de capricho em representar fielmente a cultura dos arcades ou em brincar com o tema, tornando-o mais universal e deixando claro que o único intuito era tirar dinheiro da nostalgia dos anos 1980 e da popularidade dos videogames. Pixels se torna um exercício de glorificação da Geração X mesmo a custo da sua coerência, ofendendo-me particularmente ao tentar vender a ideia de que não existe ninguém mais capacitado para resolver o problema do que um bando de quarentões vivendo de sua nostalgia e de suas lembranças. Ou seja, todo o filme gira com base no discurso chato de que “no meu tempo era muito melhor e vocês jovens não sabem de nada”, transformando um tema que tinha tudo para ser legal em uma coisa constrangedora e que não representa a importância dos videogames.

O triste é ver que o filme tem coisas muito bacanas, sobretudo na parte gráfica, com uma identidade visual coerente e muito bem feita, além de efeitos especiais muito bons e um 3D que até mesmo vale a pena ser visto (inclusive, talvez seja o único modo válido de se ver este filme). Porém, tudo isso se perde em meio a ausência de ritmo, humor pueril, explicações forçadas ou inexistentes e a completa ausência de tridimensionalidade de todos os personagens, que entram e saem de cena sem aprender sequer uma vírgula.

Mesmo sendo um filme passável e inofensivo para quem não compartilha destes referenciais culturais e só quer uma comédia boba, Pixels acaba sendo uma experiência particularmente amarga para qualquer um que realmente esperava algo do filme. O longa-metragem consegue vandalizar culturalmente um tema que eu realmente gosto, o transformando em um produto estúpido e insosso e que simplesmente merece ser esquecido.

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