Divagações: Byôsoku 5 senchimêtoru

Conhecido por seus romances, o diretor e roteirista Makoto Shinkai é conhecido por contar histórias com elementos de ficção científica o...

Conhecido por seus romances, o diretor e roteirista Makoto Shinkai é conhecido por contar histórias com elementos de ficção científica ou fantasia. Talvez seja por isso que alguns críticos já o chamaram de ‘o novo Hayao Miyazaki’. Embora isso seja um grande e válido elogio, não acredito que os estilos de ambos sejam parecidos, ainda mais depois de ver Byôsoku 5 senchimêtoru, um filme que traz uma proposta bem mais realística.

Essa animação de apenas 63 minutos acompanha um romance surgido na juventude. Sua narrativa se dá ao longo de três segmentos distintos, todos protagonizados por Takaki Tohno (Kenji Mizuhashi). No primeiro – intitulado Oukashou – o vemos no começo da adolescência. Ele relembra uma amizade breve da infância com Akari Shinohara (Yoshimi Kondou), que se transformou em uma amiga por correspondência. Assim, ele parte em uma demorada viagem para revê-la, enfrentando uma grande nevasca. É esse começo que dará o tom para o restante do filme.

No segundo segmento (Cosmonaut), Tohno está prestes a terminar o Ensino Médio e convive diariamente com Kanae Sumida (Satomi Hanamura), uma menina que está perceptivelmente apaixonada por ele. Já sem contato com o antigo amor, ele se transformou em um adolescente taciturno, mas sonhador.

Por fim, a terceira parte se chama Byousoku 5 Centimeter e acontece quando, já adulto, Tohno precisa encarar a vida e se redescobrir como um adulto. Isso implica, obviamente, em tomar uma decisão definitiva com relação a seus sentimentos por Akari Shinohara (Ayaka Onoue).

Absolutamente melancólico, o filme tem um andamento lento e não é recomendado para crianças. Por mais que seja uma animação, seu público é mais voltado para quem consegue perceber a beleza de um cenário bem construído e repleto de detalhes do que agradar aqueles que procuram por elementos coloridos e músicas felizes. Pessoas mais sensíveis, inclusive, devem deixar a caixinha de lenços à mão.

Ao mesmo tempo, Byôsoku 5 senchimêtoru não é forçadamente dramático. Trata-se de uma produção que procura retratar uma situação real, que poderia ter acontecido com qualquer um. A narrativa é simples e introspectiva, focando mais em pensamentos e comportamentos que em diálogos propriamente ditos – o que também explica a ênfase nos belos cenários. Ou seja, esse é um filme que se permite uma atmosfera reflexiva, um ritmo próprio e diferente.

Tecnicamente, o filme é brilhante. Além de ser rico em detalhes, ele faz um uso incrível da iluminação e, em muitos momentos, é possível até esquecer que se trata de um desenho. A música também é muito poderosa, concentrada no uso de piano e sendo capaz de ajudar no caráter emotivo das cenas.

Embora a estrutura fragmentada talvez atrapalhe um pouco para um espectador preso a uma narrativa tradicional, Byôsoku 5 senchimêtoru supera esse estranhamento inicial e consegue seguir bem nas transições. Cada um dos segmentos tem um grande poder dramático (especialmente o primeiro), sendo que o conjunto proporciona uma visão mais completa sobre a personalidade do protagonista. É praticamente um exercício narrativo, mas é preciso dizer que se trata de um bem sucedido.

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