Divagações: Psycho

Acredito que seja impossível falar em suspense no cinema sem citar Alfred Hitchcock . E quando ele é mencionado, Pshyco não pode ficar d...

Acredito que seja impossível falar em suspense no cinema sem citar Alfred Hitchcock. E quando ele é mencionado, Pshyco não pode ficar de fora. Afinal, além de ser um ícone do gênero, é um filme que funciona bem até hoje, com suas reviravoltas, excelentes atuações e surpresas.

A história começa apresentando a secretária Marion Crane (Janet Leigh), que vive um relacionamento complicado com um homem divorciado – estamos em 1960 – e cheio de dívidas (John Gavin). Ela é uma moça correta, mas é tentada quando seu chefe coloca 40 mil dólares em suas mãos (equivalente a quase 350 mil dólares em valores atuais).

Tensa, Marion foge com o dinheiro, mas acaba sendo assassinada no Bates Motel, um local com uma péssima localização e administrado pelo perturbado Norman Bates (Anthony Perkins). Sem saber o que aconteceu, sua irmã (Vera Miles) contrata um detetive particular (Martin Balsam), que também encontra seu destino final nas mãos da Sr.ª Bates (voz de Virginia Gregg).

Com uma trama mais intricada que a maior parte dos filmes do diretor, Psycho se beneficia de um espectador ingênuo – algo difícil de encontrar atualmente. De qualquer forma, não vou revelar aqui o grande segredo do filme, pois tenho a esperança de que alguém ainda seja capaz de ser surpreendido pelas revelações finais. Aliás, vale acrescentar que a produção se estende um pouco além do que estamos acostumados, só para garantir que todo mundo realmente entendeu o que aconteceu e seja capaz de ligar as pontas.

Para segurar a revelação pelo maior tempo possível, Hitchcock abusa de ângulos de câmera criativos. Alguns deles são utilizados até hoje e ajudaram a moldar o que entendemos atualmente por suspense. Por mais que a cena onde o detetive cai da escada seja estranha para nossos olhos, ela representou muito na época e ainda tem seu valor ao mostrar o terror no rosto da vítima – que sabe de algo que o espectador ainda desconhece.

Psycho ainda tem outros méritos ao lidar com as expectativas do espectador. É difícil definir quem é o real protagonista do filme, com o elenco dividindo as atenções e o tempo de tela. Ao contrário do que muitos poderiam supor, contudo, isso não dificulta a compreensão do filme nem o andamento da história, que tem um ritmo fluido e interessante. Não há nada de monótono, nem para quem já sabe o que vai encontrar.

Hitchcock também foi cuidadoso com vocabulário e iluminação, equilibrando o efeito desejado com a sensibilidade dos sensores da época, que jamais suportariam ver nudez na tela, por exemplo. Assim, a famosa cena no chuveiro consumiu uma semana de Janet Leigh, enquanto todo o filme teve apenas 30 dias de filmagens. Os diversos ângulos e a montagem, consequentemente, foram bem calculados.

Considerada uma produção barata, mesmo para a época, Psycho foi feito em preto e branco por dois motivos principais: para economizar (o filme colorido é consideravelmente mais caro) e também para evitar que o sangue produzisse um efeito muito chocante ou grotesco. Boa parte do efeito dramático é conquistada através da música – tanto é que o compositor Bernard Herrmann teve seu salário dobrado pelo diretor e seu nome aparece bem grande nos créditos.

Absolutamente obrigatório para todos os que realmente gostam de cinema, Psycho é uma obra-prima realizada pela vontade de um diretor em ser criativo independentemente dos estúdios e das grandes estrelas. É um exercício narrativo que não apenas funciona muito bem, mas que se transformou em uma verdadeira lição cinematográfica.

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