Divagações: Spectre

O James Bond de Daniel Craig trouxe muitas novidades para o mundo do agente secreto. Ele deu um tom de realismo condizente com o que es...

O James Bond de Daniel Craig trouxe muitas novidades para o mundo do agente secreto. Ele deu um tom de realismo condizente com o que estava popular no período, mas sem perder o charme inglês. Em um primeiro momento, a fórmula deu muito certo. Ainda assim, há quem questione a decisão de dar uma linha única às narrativas, que sempre eram tratadas como aventuras isoladas.

Outro tema polêmico é o passado do agente secreto, que começou a aparecer aos poucos – especialmente com a entrada do diretor Sam Mendes. Ao mesmo tempo em que se espera algo mais autoral do cineasta, ele ajudou a franquia a se manter nos trilhos ao apostar fortemente em alguns de seus maiores clichês. O realismo do herói ficou levemente ameaçado, mas os vilões mantiveram seu caráter inesquecível e exagerado.

Spectre segue esse raciocínio. Há uma ponte com as aventuras estreladas anteriormente por Craig: quem não viu consegue se sair bem se tiver conhecimentos simples sobre a série; quem viu não vai precisar tirar nada do fundo da memória, já que o filme não exige demais. O foco também está mais no próprio agente secreto que na segurança da terra da rainha em si, mas não é só isso...

Ao invés de trabalhar sob as ordens de M (Ralph Fiennes), Bond está cumprindo suas próprias missões e parte – com a charmosa companhia de Madeleine Swann (Léa Seydoux) – em busca de uma misteriosa organização liderada por Blofeld (Christoph Waltz). Em uma tentativa de controlar 007, ainda que de forma relutante, Q (Ben Whishaw) chega a colocar um rastreador no sangue dele. A sensação de perseguição segue quando se percebe que ligações pessoais de Moneypenny (Naomie Harris) estão sendo gravadas.

Para completar, C (Andrew Scott) quer aprovar um projeto que unirá bancos de informações de diversas inteligências secretas internacionais, o que também inclui a destruição do ‘ultrapassado’ programa 00. O raciocínio é válido, mas a execução envolve medidas bem autoritárias e antidemocráticas, o que torna Spectre um filme mais ‘pró-liberdade’ (uma filosofia bem estadunidense) que patrioticamente inglês. É estranho, mas não chega a doer.

Apesar das sequências de abertura fantásticas, filmadas no México e amplamente usadas nos materiais de divulgação, a verdade é que a história não chega exatamente a empolgar. As cenas de ação são boas e o protagonista sabe criar uma tensão sexual como mais ninguém, mas falta uma motivação realmente convincente.

No final das contas, a trama paralela que M carrega no lado burocrático, mesmo que bastante óbvia, funciona melhor que toda a jornada cheia de ação do herói. Também é uma pena terem perdido boa parte do potencial de Christoph Waltz como vilão neurótico (vamos combinar que ele tem talento para isso).

Para quem quer se divertir com 007, Spectre traz tudo o que se quer ver. Figurinos fantásticos, músicas clássicas, viagens pelo mundo, muitas explosões, perseguições em meios de transporte diversos, carros bonitos e cheios de acessórios especiais e por aí vai. Como cinema acompanhado de pipoca: fantástico. Dentro de um contexto mais amplo, contudo, o filme acaba sendo facilmente esquecível. Por hora, os fãs da série não devem se incomodar, mas talvez eles sintam falta de algo no futuro.

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