Divagações: Hannah and Her Sisters

Com sete indicações ao Oscar e três vitórias (Melhor Roteiro Original, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Ator Coadjuvante), há quem diga ...

Com sete indicações ao Oscar e três vitórias (Melhor Roteiro Original, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Ator Coadjuvante), há quem diga que Hannah and Her Sisters é o melhor filme de Woody Allen. Sem ser uma comédia nem um drama, a produção é o que eu poderia chamar de um filme sobre o cotidiano, algo que o cineasta aprendeu a fazer muito bem com o tempo.

Aliás, acredito que o filme mereça que eu me alongue nesse ponto. Embora seu foco inicial estivesse na comédia, o cineasta se desafiou em diversos momentos ao longo de sua carreira. Ele testou diversos gêneros e aprendeu a escrever diálogos mais sinceros e realistas. O resultado foi o desenvolvimento de um jeito próprio de contar histórias, onde o comportamento é mais importante que a narrativa.

Assim, embora não represente nenhuma grande revolução para o cinema de Woody Allen, Hannah and Her Sisters traz um amálgama de várias coisas que fazem seus filmes serem bons. Não foi à toa que, na época do lançamento, houve até uma campanha para que esse fosse o primeiro roteiro a ser indicado a um Pulitzer. Esse também foi um dos filmes mais lucrativos da carreira do diretor.

Tudo gira ao redor de três irmãs. Hannah (Mia Farrow) é uma mulher segura e independente, uma atriz bem-sucedida que está voltando para a carreira após alguns anos dedicados à família e aos filhos. Lee (Barbara Hershey), por sua vez, gosta de ser cuidada; mesmo em um relacionamento com Frederick (Max von Sydow), ela não se esquiva da possibilidade de receber a atenção do marido da irmã, Elliot (Michael Caine). Já Holly (Dianne Wiest) é dependente financeira e emocionalmente das outras duas e está em busca de sucesso profissional como atriz ao lado de April (Carrie Fisher), embora sinta inveja de cada nova conquista da amiga.

Pais, namorados, amigos e ex-maridos fazem parte do mundo de Hannah and Her Sisters. Em vez de se centrar apenas nas três irmãs, o roteiro trabalha de forma a mostrar também quem as cerca. Além disso, os ângulos de câmera colaboram com essa percepção e se preocupam em trazer também a cidade de Nova York para dentro do filme. O tempo passa ajudado por mudanças de figurino que indicam as estações e por intertítulos.

Embora existam conflitos narrativos, eles são menos importantes que os personagens em si (e você passa a se preocupar mesmo com aqueles que estão moralmente errados). A relação entre as irmãs – um tema que Woody Allen já havia explorado em Interiors – parece acima de qualquer abalo, ao mesmo tempo em que tudo pode estar por um fio. Aliás, ao colocar relacionamentos e Nova York na mistura, é como se o diretor tivesse unido seu drama mais pesado a uma obra como Annie Hall. O resultado faz você rir, mas também está prestes a levar às lágrimas.

Para falar a verdade, boa parte do humor se concentra em um personagem secundário interpretado pelo próprio Woody Allen. Com menos relevância na trama, ele segue com seus pequenos-grandes dilemas paralelos e se permite ser exagerado sem quebrar totalmente com o tom mais realístico do filme.

Hannah and Her Sisters começa e termina com a família reunida para celebrar o Dia de Ação de Graças. Em teoria, esse é um feriado (mais ou menos) independente de religião e feito para que ressentimentos sejam postos de lado, sendo possível simplesmente amar ao próximo. Ironicamente, talvez ‘amar ao próximo’ seja uma expressão controversa em uma obra onde irmãs insistem em se apaixonar pelas mesmas pessoas. Mas acontece em Nova York.

Outras divagações:

RELACIONADOS

0 recados