Divagações: A Midsummer Night's Sex Comedy

Por mais que eu goste de seu trabalho, sempre admiti que Woody Allen é um cineasta irregular. Ele faz tantos filmes que se torna impossí...

Por mais que eu goste de seu trabalho, sempre admiti que Woody Allen é um cineasta irregular. Ele faz tantos filmes que se torna impossível que todos sejam bons. Assim como em uma profusão de ideias nem todas as sugestões são aproveitáveis, nem todas as obras do cineasta são dignas de aclamação. Infelizmente, esse é o caso de A Midsummer Night's Sex Comedy.

Tudo acontece no começo do século 20, durante o longo fim de semana (onde foi que eu li algo assim antes?) que antecede o casamento de Leopold (José Ferrer) e Ariel (Mia Farrow). Como a festa deve ser realizada na propriedade da prima do noivo, Adrian (Mary Steenburgen), ela e seu marido Andrew (Allen) recebem o casal e mais dois convidados – o melhor amigo do dono da casa, Maxwell (Tony Roberts), e uma moça de mentalidade ‘moderna’ que ele encontrou no trabalho, Dulcy (Julie Hagerty) – para um período de contato com a natureza e seus aspectos místicos.

Os três casais, no entanto, vivem um período de encontros e desencontros amorosos (apesar do título, tudo é relativamente inocente). A Midsummer Night's Sex Comedy traz, assim, uma premissa boa e simples, ainda que extremamente dependente de seus personagens para funcionar. E é nesse ponto que reside o perigo. Ao trazer um professor cético e uma mulher com experiência de vida, uma esposa conservadora e um inventor maluco que trabalha na bolsa de valores, um médico sedutor e uma enfermeira facilmente seduzível, os clichês se sobrepõem a qualquer atuação.

O que acontece é que, ao contrário da maior parte dos filmes estrelados pelo diretor, esse traz um conjunto de seis personagens igualmente relevantes (ou quase isso). Com menos texto para cada um, nenhum deles parece particularmente bem escrito ou tem uma personalidade com mais camadas. Tudo é tão raso quanto a credibilidade das invenções de Andrew, que incluem asas, uma bicicleta voadora, uma máquina de descascar maçã (a mais plausível!) e uma lanterna mágica com ligação direta ao mundo transcendental.

Levemente baseado em Sommarnattens leende, de Ingmar Bergman, A Midsummer Night's Sex Comedy tinha a ambição de fazer pelo ambiente rural o mesmo que Manhattan fez por Nova York – o que, na minha opinião, já era pedir demais. Não é à toa que esse se tornou um dos poucos fracassos comerciais da carreira do diretor, além de ser o único em sua filmografia a receber uma indicação aos Razzie Awards (na categoria de Pior Atriz para Mia Farrow).

Aliás, um fato memorável da produção é que se trata da primeira parceria entre Allen e Mia, que trabalhariam juntos em 13 filmes e teriam um relacionamento longe das telas por 12 anos. Na verdade, as filmagens foram intercaladas com as de Zelig e também com algumas sequências de Broadway Danny Rose. Com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, não é de se estranhar que falte algum brilho para essa produção.

A Midsummer Night's Sex Comedy é um daqueles filmes que poderia ser muito, mas acaba não entregando todo o seu potencial. A premissa é interessante, o elenco é bom e o cenário ajuda, mas parece que ele conta demais com a sorte e com o talento cômico de Woody Allen. A primeira nem sempre está presente e o segundo descobriu que não é invencível.

Outras divagações:

RELACIONADOS

0 recados