Divagações: September

Quem se coloca em uma posição de constante experimentação acaba também errando bastante. Com uma média alta de filmes lançados por ano, W...

Quem se coloca em uma posição de constante experimentação acaba também errando bastante. Com uma média alta de filmes lançados por ano, Woody Allen tinha muitas ideias e nem todas deram certo comercialmente. A princípio, não tinha porque isso acontecer com September, mas a verdade é que um filme simples pode dar mais trabalho do que alguém de fora poderia supor.

Estruturalmente baseado em uma peça de Anton Tchekhov, o filme se passa em uma única locação e tem um número limitado de personagens. Lane (Mia Farrow) é uma moça problemática, que decidiu se isolar depois de um relacionamento que acabou mal e, agora, pretende vender a casa de campo da família para voltar para a cidade grande. Ela tem um passado problemático envolvendo sua mãe famosa, Diane (Elaine Stritch), e um grande escândalo que é revelado aos poucos.

Lane está apaixonada por Peter (Sam Waterston), um escritor amador que alugou a casa de hóspedes da propriedade durante o verão. Ele, contudo, está de olho na melhor amiga dela, Stephanie (Dianne Wiest), que, por sua vez, está enfrentando problemas no casamento e aproveita a oportunidade para flertar. Completam o quadro o paciente marido de Diane, Lloyd (Jack Warden), e um vizinho apaixonado por Lane, Howard (Denholm Elliott).

As interações entre esses personagens provocam diversos tipos de tensões e são bem exploradas pelo roteiro. O foco está bem mais direcionado para o drama, mas isso não impede que existam momentos mais leves ou ternos. September é sensível e respeita as fragilidades de cada um de seus personagens, especialmente dos femininos, que apresentam também os maiores conflitos internos.

Entretanto, observo que, embora Mia Farrow tenha se mostrado uma atriz versátil ao longo de sua parceria com o diretor, dificilmente suas atuações costumam apresentar mais de uma nota por filme. Nesse caso, por exemplo, ela faz cara de choro durante a maior parte do tempo e acaba bem mais apagada do que deveria. A única cena de maior arroubo emocional funciona bem, mas especialmente pela ajuda dos coadjuvantes.

Aliás, ao não atuar, Allen retira de September qualquer resquício de humor escapista ou irônico. A produção tem um texto sem exageros e uma direção que talvez segure as atuações um pouco mais do que deveria. Com uma estrutura que poderia facilmente descambar para a comédia, esse drama acaba se segurando bem e de forma íntegra.

A propósito, vale ainda acrescentar que entre as principais razões para que a produção tenha sido um desastre comercial está nos bastidores. Woody Allen filmou todas as cenas com diversas entonações possíveis, mas percebeu que não tinha o que queria apenas na sala de edição. Assim, ele resolveu mudar boa parte do elenco (sem avisar formalmente os atores cortados) e refez tudo. Obviamente, isso implicou em um estouro no cronograma e no orçamento. Entre os nomes que faziam parte do elenco original estavam Maureen O'Sullivan, Charles Durning e Sam Shepard.

Sincero, mas com uma ambição maior do que suas conquistas, September provavelmente não merece estar na lista de ‘fracassos’ do cineasta. Ao mesmo tempo, isso talvez contribua com todo o clima de fim de verão e de tristeza por algo que em breve deixará de ser. É preciso seguir em frente, mas como fazer isso quando não se tem forças?

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