Divagações: Sense and Sensibility

Já disse anteriormente que adoro Jane Austen . Algo que não contei é que o primeiro livro desta autora que li é justamente aquele que deu...

Já disse anteriormente que adoro Jane Austen. Algo que não contei é que o primeiro livro desta autora que li é justamente aquele que deu origem a Sense and Sensibility. Assim, essa produção de 1995 sempre representou para mim uma espécie de ‘sonho transformado realidade’. É bobo, eu sei, mas eu era apenas uma menina.

Após a morte do patriarca da família Dashwood (Tom Wilkinson), todos os seus bens são herdados por seu filho mais velho, John (James Fleet). Influenciado por sua esposa Fanny (Harriet Walter), ele decide se mudar para a propriedade ocupada pela madrasta (Gemma Jones) e por suas três meio-irmãs – Elinor (Emma Thompson), Marianne (Kate Winslet) e Margaret (Emilie François) –, deixando as moças sem dote e fazendo com que elas precisem se mudar para uma localidade mais humilde.

Mas, sinceramente, não é isso que importa. A premissa acima serve apenas para colocar moças bem-educadas em uma situação desfavorável, onde qualquer pretendente se assemelhe a uma tábua de salvação. Para Elinor, a responsável irmã mais velha, isso surge justamente na figura do irmão de Fanny, Edward Ferrars (Hugh Grant), que, no entanto, está secretamente noivo de Lucy Steele (Imogen Stubbs). Já Marianne, a intensa irmã do meio, arruma dois interessados: o soturno coronel Brandon (Alan Rickman) e o vivaz John Willoughby (Greg Wise). E são as idas e vindas desses corações apaixonados que marcam o andamento da trama.

Com o roteiro caprichosamente escrito por Emma Thompson e a direção sensível de Ang Lee, esse filme tinha tudo para ser a melhor adaptação de Jane Austen para o cinema. Embora esteja, sem dúvida, entre as mais bem realizadas, a produção sofre com uma edição praticamente amadora. Para completar, é preciso admitir que o material original não valoriza muito os personagens masculinos. O texto até se esforça para dar uma dimensão extra, mas a atuação de Hugh Grant apenas atrapalha essa iniciativa.

Uma das grandes forças de Sense and Sensibility, no entanto, é o que fica nas entrelinhas. Entre fofocas e segredos, olhares acabam dizendo mais do que muitas palavras e uma atitude fora do esperado vale por um livro inteiro. Emma Thompson tem a missão de segurar tudo com rédeas firmes, sofrendo em segredo, mas seus breves momentos de fraqueza demonstram o imenso coração da personagem. Já a personagem de Kate Winslet parece ser alguém fácil de ler, mas sua intensidade esconde um desespero latente e um amor imaturo.

Ao mesmo tempo em que trata de relacionamentos amorosos, a produção ganha ao se focar também nas relações familiares, especialmente ao opor narrativamente a união das mulheres Dashwood com as ideologias dos irmãos Ferrars. São várias camadas que entrelaçam as relações por interesse e aquelas por vínculo afetivo, algo característico das dimensões domésticas relatadas por Jane Austen.

Para completar, esse material é acompanhado de um charmoso cenário inglês, com direito a figurinos de época (mas nada extravagante) e os bailes coreografados do começo do século 19. Sense and Sensibility é um fácil de assistir por não exigir muito do seu espectador. Ao mesmo tempo, não é como se fosse possível simplesmente ‘desligar o cérebro’. Esse é um entretenimento simples, que conta uma bela história com respeito e não subestima seu público.

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