Divagações: Beasts of the Southern Wild

Todo ano, na época das premiações, surge a vontade de assistir a todos os filmes indicados, mas nem sempre isso é possível. Para mim, na ...

Todo ano, na época das premiações, surge a vontade de assistir a todos os filmes indicados, mas nem sempre isso é possível. Para mim, na temporada de 2012-2013, Beasts of the Southern Wild acabou ficando para trás. É uma pena que eu não tenha visto antes, mas fiquei feliz de finalmente poder conferir – e entender a indicação de Melhor Atriz para Quvenzhané Wallis, a mais nova atriz a receber essa lembrança.

Baseado em uma peça de Lucy Alibar, o filme tem roteiro da própria escritora, feito em parceria com o diretor Benh Zeitlin. A partir do momento em que se percebe essa origem, fica fácil entender certos aspectos da narrativa, como o constante sentimento de isolamento dos personagens. Ainda assim, suponho que a riqueza visual do filme enriqueça e muito o conteúdo quando comparado ao que se vê no palco.

Hushpuppy (Quvenzhané Wallis) é uma menina de seis anos que vive em uma comunidade muito pobre e esquecida. No decorrer do filme, descobrimos que se trata de uma área evacuada após a construção de uma represa, contudo, alguns moradores se recusaram a sair e acabaram criando uma sociedade com regras próprias. Ela mora com seu pai, Wink (Dwight Henry), um homem doente e de temperamento difícil. Assim, quando uma grande chuva destrói boa parte das residências e das fontes de alimentação do local, a situação da menina se complica ainda mais.

Por mais que Beasts of the Southern Wild conte com vários personagens adultos, não dá para negar que todas as atenções vão para a pequena Hushpuppy. Ela nasceu com a represa (ou logo após) e não conhece o mundo do outro lado da água, convivendo de forma muito próxima com animais e a natureza. Criada pela comunidade como um todo, ela enxerga cada nova descoberta como algo fantástico, usando a imaginação para lidar melhor com a realidade que a cerca – e criando uma casca grossa para lidar com todos os problemas.

Essa maturidade, simultaneamente precoce e inocente, é a principal característica de um filme que poderia se apoiar em muitos aspectos – uma música forte, momentos dramáticos e de lágrimas fáceis, paisagens tragicamente belas –, mas que resolve confiar em uma atriz muito nova e absolutamente inexperiente. Assim, o longa-metragem segue sem exageros, sem querer forçar os sentimentos de seu expectador, apenas contando a sua história.

Obviamente, Beasts of the Southern Wild não é apenas mérito do trabalho de Quvenzhané. O filme consegue criar com imensa credibilidade a comunidade em que a menina vive e ganha muitos pontos quando primeiro mostra esse universo e faz o público criar um vínculo com aquelas pessoas para apenas depois situar esse local no mundo real. Se a ordem dos fatores fosse diferente, o resultado nunca teria sido o mesmo.

Já com relação aos aspectos técnicos, a produção é impecável. Os figurinos, os cenários e as locações são repletos de detalhes, assim como todos os ‘adereços’ de cena. O único aspecto que deixa a desejar são os efeitos especiais, embora isso seja perfeitamente perdoável quando se observa o resultado geral e o capricho com cada elemento.

Provocador, o filme é uma experiência única e imprevisível. Seu drama é repleto de fantasia, algo que só uma protagonista infantil seria capaz de fazer com tanta habilidade. Ao mesmo tempo, Beasts of the Southern Wild também demonstra a sensibilidade e o conhecimento de mundo de Lucy Alibar e Benh Zeitlin, que trouxeram muita humanidade para as suas ‘bestas’.

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