Divagações: Ben-Hur

Apesar de não fazer bem o meu estilo, a versão de 1959 de Ben-Hur é um clássico inquestionável do cinema, daqueles que definiram padrões ...

Apesar de não fazer bem o meu estilo, a versão de 1959 de Ben-Hur é um clássico inquestionável do cinema, daqueles que definiram padrões para a indústria e bateram recordes. Embora não se venda como um remake, mas como uma nova adaptação do romance original escrito por Lew Wallace, não podemos exatamente negar que a versão de Timur Bekmambetov pisa em ovos ao mexer em uma história amada por muitos – ainda mais quando não tenta vender o mesmo glamour do original.

Com um elenco modesto e um orçamento proporcionalmente mais enxuto, Ben-Hur segue por linhas gerais a história que todos conhecemos. Judah Ben-Hur (Jack Huston), um príncipe judeu do século I, mantém uma relação conturbada com seu irmão adotivo e amigo de longa data, o romano Messala Severus (Toby Kebbell), que retorna ao lar depois de anos nas legiões romanas. Com Jerusalém ocupada pelas forças do império, as tensões entre os judeus e romanos se acirram e a fidelidade de Judah é dividida entre seu povo e seu amigo.

Após assumir a culpa por um atentado a vida de Pontius Pilate (Pilou Asbæk), Judah é aprisionado e escravizado. Mas ele jura se vingar de Messala, possibilidade que se torna real após conhecer Ilderim (Morgan Freeman), um comerciante envolvido nas corridas de bigas, esporte onde o romano é um campeão invicto.

Repaginando alguns elementos já conhecidos, Ben-Hur tenta trazer a história para um cenário um pouco mais realista e crível do que aquela rigidez um pouco kitsch que os grandes dramas históricos hollywoodianos tinham na década de 1950. Sinceramente, a produção até consegue fazer isso de modo competente, com um visual bastante coeso e um figurino que, apesar de beirar o ridículo ocasionalmente, soa plausível em contexto. No geral, o visual é a parte melhor realizada do filme e consegue dar uma variada temática dos filmes históricos majoritariamente europeus, apresentando um mundo muito calcado no Oriente Próximo.

Porém, os elogios acabam por aí. Em termos de roteiro e direção, o filme deixa muito a desejar. A história é truncada e várias subtramas são pouco desenvolvidas, com as motivações dos personagens sendo apresentada como voláteis e irreais. A direção faz algumas escolhas questionáveis e, apesar da ação ser relativamente legal, o restante lembra muito um folhetim, com closes exagerados nas caras e bocas dos atores.

Ainda que seja falho, Ben-Hur tenta estabelecer uma identidade própria e as inevitáveis críticas negativas por causa das comparações com a versão de 1959 me soam injustas nesse contexto. De certa forma, os principais problemas deste longa-metragem são justamente os mesmos que me fazem não simpatizar muito com o filme clássico para início de conversa – quer seja o excesso de proselitismo, a trama desinteressante ou o maniqueísmo evidente (ainda que o Messala de Toby Kebbell seja um personagem com mais tons de cinza do que o de Stephen Boyd); todos vícios provenientes do romance original.

Falando em proselitismo, para nós brasileiros a participação de Rodrigo Santoro como Jesus é outro ponto de curiosidade. O resultado é um personagem apresentado de modo interessante, mas que descamba para o lugar-comum e acaba não fedendo nem cheirando. Depois de tantas boas interpretações do mesmo personagem, a participação de Santoro se parece apenas com um potencial não realizado.

Por mais que não seja tão ruim como alguns críticos certamente vão afirmar, Ben-Hur está longe de ser um bom filme, tendo tanto elementos interessantes quanto falhas gritantes – geralmente concentradas no último ato da produção, tornando algo que poderia acabar de modo mais provocativo em um poço de mediocridade. Ainda que um bom final não fosse capaz de redimir a produção como um todo, isso talvez a colocasse acima da grande massa de lançamentos de uma temporada de verão cheia de decepções. Infelizmente, Ben-Hur se tornou apenas mais um.

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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