Divagações: American Psycho

Loucura, violência e ambição. Nesses pontos, American Psycho não é muito diferente da maior parte dos filmes sobre mocinhos de Wall Str...

Loucura, violência e ambição. Nesses pontos, American Psycho não é muito diferente da maior parte dos filmes sobre mocinhos de Wall Street que passam da linha em sua busca pelo sucesso. A única coisa que muda é que, nesse caso, essas três características se misturam de uma forma incrível, confundindo tanto os personagens quanto o público. Afinal, o que exatamente está acontecendo?

Em 1987, Patrick Bateman (Christian Bale) é um yuppie preocupado com um ritual de beleza matinal, uma rotina de exercícios puxada e um cargo na empresa de fusões e aquisições onde (finge que) trabalha. Ele tem uma secretária apaixonada, Jean (Chloë Sevigny); uma noiva indiferente, Evelyn Williams (Reese Witherspoon); e uma amante problemática, Courtney Rawlinson (Samantha Mathis). Convive com vários colegas sem vínculos reais de amizade e odeia aqueles que se destacam, especialmente Paul Allen (Jared Leto). Seu desprezo por tudo e por todos é tão grande que ele começa a nutrir estranhas fantasias de violência e assassinato. Inicialmente, suas vítimas são prostitutas e mendigos, mas ele não demora a perceber que pode se livrar de crimes cada vez maiores – até que as coisas saem de controle.

O detalhe é que nada em American Psycho é exatamente aquilo que parece. Baseado em um polêmico livro de Bret Easton Ellis, o filme se beneficiou do comando firme e assertivo dado pela diretora Mary Harron, que também assina o roteiro ao lado de Guinevere Turner. Ela consegue criar duas realidades paralelas e chocantes, que se cruzam em diversos pontos, mas nunca chegam a conversar.

Uma delas rodeia o personagem de Christian Bale, que entrega um trabalho apaixonado e totalmente dedicado ao ‘seu’ ponto de vista da história. A outra é exclusiva dos coadjuvantes com poucas falas e é vislumbrada pela atuação dúbia de Willem Dafoe como o detetive particular Donald Kimball. Ele gravava suas cenas a partir de orientações diversas dadas por Mary que, posteriormente, combinava as gravações para alcançar o efeito desejado.

Aliás, American Psycho é brilhante em expressar a vaidade. Homens discutem o papel e a tipografia de seus cartões de visita em uma reunião de negócios absolutamente sem propósito. Em todos os cartões é possível ler o mesmo cargo: vice-presidente. É praticamente a versão ‘business’ de uma briga pelo domínio da matilha. Há muitos outros aspectos que denotam como o protagonista, em especial, se percebe como mais importante do que ele realmente é, mas essa sequência é essencial – e a única em que ele aparece diretamente com suas cores reais.

Mesmo após 15 anos de seu lançamento, esse filme ainda impressiona e continua sendo recomendado para quem gosta de dramas psicológicos e de ser envolvido em tramas inteligentes. Claro que essa não é uma daquelas produções espertonas e cheias de reviravoltas, como o público atual poderia esperar, mas é uma história feita para quem quer pensar enquanto vê um filme (em oposição a desligar o cérebro e se divertir com uma violência exagerada). American Psycho continua brilhante e merece ser redescoberto por uma nova geração de espectadores.

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