Divagações: Spider-Man: Homecoming

Depois de três versões distintas e seis filmes em quinze anos, o filho pródigo retorna ao lar (não que o próprio título não faça questão d...

Depois de três versões distintas e seis filmes em quinze anos, o filho pródigo retorna ao lar (não que o próprio título não faça questão de nos lembrar). O clamor dos fãs finalmente toma forma com Spider-Man: Homecoming, o primeiro filme solo do cabeça-de-teia com o dedo do Marvel Studios e conectado ao imenso – e rentável –, universo cinematográfico da Casa das Ideias. Se os mais puristas torciam o nariz para as adaptações do herói na série The Amazing Spider-Man (apesar de gostar do Spider-Man de Andrew Garfield, há males que vem para o bem), Spider-Man: Homecoming vem para botar ordem na casa e entregar um filme que, mesmo tendo alguns problemas aqui e ali, tem potencial para agradar a gregos e troianos e nos empolgar de verdade para o que o futuro reserva ao que provavelmente é o herói mais popular do mundo.

Sem perder muito tempo contando a história de origem do vigilante – a essa altura mais do que conhecida por todos – Spider-Man: Homecoming parte dos acontecimentos que vimos em Captain America: Civil War, onde um jovem e inexperiente Peter Parker (Tom Holland) é descoberto por Tony Stark (Robert Downey Jr.) e apresentado a um mundo de heroísmo e de grandes feitos. O problema é que, com a crise dos Avengers meio que resolvida, Peter é jogado para escanteio e volta a sua vida de herói local do Queens, em Nova York.

Tentando encontrar o seu lugar no mundo e provar o seu valor, Peter tenta equilibrar a vida dupla que leva como herói e o seu cotidiano ordinário como estudante. Da sua amizade com Ned (Jacob Batalon) a sua atração por Liz (Laura Harrier), passando pela relação com sua tia May (Marisa Tomei), nada é exatamente muito simples. Além disso, a despeito de seus esforços, ele é constantemente ignorado por Happy Hogan (Jon Favreau), o responsável por fazer a mediação entre Peter e Tony Stark. A chance de mudar essa situação acontece quando ele descobre um traficante de armas vendendo tecnologia alienígena para criminosos comuns, o que o coloca em uma perseguição que pode estar muito acima de suas capacidades.

Em um universo de heróis tão poderosos que decidem o destino do mundo, é fácil se esquecer de que esse tipo de história não precisa de um escopo tão grande para ser boa – inclusive, a vontade de ser grande demais para o seu próprio bem talvez seja um dos grandes temas do filme. Temos aqui Peter Parker em uma fase bem mais humilde da sua história, impedindo assaltos e ajudando turistas perdidos; um herói que, acima de tudo, faz por valer o apelido de amigão da vizinhança. Aliás, o fato do longa-metragem ser algo bem mais contido combina muito mais com esse arco de desenvolvimento do personagem, que tanto na sua vida civil quanto por baixo do uniforme, ainda está aprendendo e se desenvolvendo.

Tanto é que esse é um filme muito mais sobre Peter Parker do que sobre o Spider-Man, sendo que pouco tempo é dedicado às cenas de ação (com coreografias bem menos interessantes do que nos filmes de Marc Webb). Quando vemos o herói em cena é por conta das motivações que ele tem em seu alterego, dando aquele investimento emocional que é necessário para que a parte adolescente do drama se encaixe bem com todo o resto.

Spider-Man: Homecoming também traz um dos poucos vilões interessantes do universo cinematográfico da Marvel, com Adrian Toomes (Michael Keaton) sendo um personagem com motivações bastante críveis e estabelecendo uma relação interessante com o Spider-Man. Mesmo não sendo particularmente bem desenvolvido e memorável, ele certamente representa um passo na direção certa para a Marvel, que insiste em subaproveitar seus antagonistas.

Apesar de não ser uma ruptura com o que já esperávamos do universo Marvel nos cinemas, Spider-Man: Homecoming pelo menos tem um sabor distinto e certo frescor, não seguindo a estrutura já batida que os filmes de origem do estúdio costumam ter. Porém, a produção é contaminada por muitos dos vícios do estúdio, apresentando o mesmo tipo de humor que pode ter cansado alguns de nós e que, apesar de combinar com a própria leveza do herói, não é perfeitamente executado e deixa um pouco a desejar – sobretudo no que tange às interações com Ned e com a inteligência artificial que controla o traje do herói, Karen (Jennifer Connelly), que às vezes ficam um pouco cansativas e não exatamente no ponto.

Ainda assim, no geral, não vejo motivos para reclamar. Entendo que essa não será uma obra revolucionária, capaz de mudar todo o panorama da indústria e que, para muitos, essa também não será nem ao menos o ‘melhor filme do herói nos cinemas’. Mas, por todos os seus méritos, o longa-metragem acaba sendo mais do que sólido para os fãs e um blockbuster perfeito para esse início de férias, encontrando um bom equilíbrio entre ser a sua própria história e mais uma engrenagem na gigantesca máquina da Marvel.

Outras divagações:
Ant-Man
Captain America: The First Avenger
Captain America: The Winter Soldier
Captain America: Civil War
Doctor Strange
Guardians of the Galaxy
Guardians of the Galaxy Vol. 2
Iron Man
Iron Man 2
Iron Man 3
The Avengers
Avengers: Age of Ultron
Thor
Thor: The Dark World

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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