Divagações: The Greatest Showman

Como um grande fã de musicais, eu via The Greatest Showman como mais uma oportunidade de não deixar o gênero passar em branco no ano de 2...

Como um grande fã de musicais, eu via The Greatest Showman como mais uma oportunidade de não deixar o gênero passar em branco no ano de 2017 – ainda que aos 45 do segundo tempo. Com músicas compostas pela dupla Benj Pasek e Justin Paul (os mesmos de La La Land) e estrelando o sempre carismático Hugh Jackman, o filme parecia exalar uma boa dose de confiança e a promessa de que, a despeito do seu diretor – o iniciante Michael Gracey –, veríamos algo realmente mágico nas telas dos cinemas.

Passado durante a metade do século XIX, The Greatest Showman romantiza a história de uma figura real, P.T. Barnum (Jackman), uma das figuras mais famosas do showbizz americano. Ele foi o fundador de um dos circos mais famosos da história e que, ironicamente, fechou as portas esse ano, depois de mais de um século de funcionamento.

Ao longo da produção, vemos a ascensão de Barnum, um jovem pobre que se apaixona por Charity (Michelle Williams), uma garota de alta classe com pais superprotetores. Mesmo depois do casamento, ele tenta constantemente provar à alta sociedade local que é mais do que um Zé Ninguém, o que o leva a adquirir um museu de curiosidades. Vendo que seu negócio estava longe de decolar, Barnum resolve contratar uma série de atrações ‘exóticas’ – do anão Tom Thumb (Sam Humphrey) à cantora barbada Lettie Lutz (Keala Settle) –, o que o leva finalmente ao estrelato e ao tão desejado contato com membros da burguesia nova-iorquina, como o socialite Phillip Carlyle (Zac Efron) e a cantora de ópera sueca Jenny Lind (Rebecca Ferguson).

Não preciso nem dizer que a história de alguém que fez fortuna explorando pessoas consideradas por muitos como ‘aberrações’ tem um tom de mau gosto, ainda mais porque elas se tornam, literalmente, atrações de circo. Mas o filme tenta esconder um pouco esse lado ao pintar que P.T Barnum ‘aceitou’ seus artistas como eles eram e os tirou da posição de invisibilidade em que a sociedade os colocava. O quadro romantizado torna o filme mais acessível para a família e esconde que, no fundo, o empresário era um grande trambiqueiro – ainda que bem-intencionado.

Dito isso – e esquecendo um pouco as comparações com a real história –, The Greatest Showman é bastante simpático e conta com muita energia em suas canções e coreografias, apresentando uma história voltada à aceitação e à diversidade. O elenco variado de cantores e dançarinos faz isso valer, fazendo com que, ao menos dentro daquele universo, a mensagem soe coerente ao que se propõe, ainda mais porque temos interpretes muito talentosos no filme e capazes de entregar o que é necessário.

Falando em elenco, não há muito do que reclamar. Hugh Jackman, mesmo não sendo um cantor excepcional, segura as pontas na base do magnetismo pessoal, enquanto Zac Efron, a despeito de ser um nome um pouco desgostado pela crítica, é bastante simpático e tem um humor que o torna um bom parceiro para Jackman em um dos melhores números do filme. Já Zendaya, que também contracena bem com Efron, faz a parte romântica do filme realmente funcionar. Por fim, Michelle Williams, que tinha tudo para mostrar apenas uma esposa idealizada, tem uma energia própria que torna sua personagem interessante o bastante.

Infelizmente, mesmo sendo interessantes, as músicas não estão no nível do ótimo trabalho da dupla de La La Land. Falta uma composição mais grudenta e há um leve abuso das percussões e dos sons deslocados do período histórico da trama. Nesse sentido, senti que as canções não têm muito ‘peso’, o que deixa o resultado final um pouco mais pobre do que o desejado e não permite que o filme seja verdadeiramente memorável. Em um musical, esse tipo de coisa faz toda a diferença.

Por outro lado, as coreografias são excepcionais, com um trabalho físico fantástico que enriquece muito as cenas. Literalmente, não consigo pensar em uma música do filme que não seja muito bem acompanhada em termos de dança, com menções honrosas para The Other Side e Rewrite the Stars.

Ainda que sofra com alguns problemas de ritmo, tenha efeitos especiais pobres (os elefantes são particularmente incômodos) e uma história corrida, The Greatest Showman é cativante e certamente vai arrancar alguns sorrisos, bem dentro da filosofia pregada pelo próprio P.T Barnum da produção. Ou seja, no final das contas, o mais importante é divertir a plateia, ainda que o filme tenha que nos enganar de vez em quando (o que é algo que ele consegue fazer muito bem), maquiando suas falhas com empolgação e paixão pelo ofício – e acho que, como fã de musicais, isso é algo que estou disposto a aceitar.

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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