Divagações: An American Werewolf in London

Ainda que o público atual tenha dificuldades em lidar com filmes de monstros, especialmente os mais antigos, essas produções são essenciai...

Ainda que o público atual tenha dificuldades em lidar com filmes de monstros, especialmente os mais antigos, essas produções são essenciais para se compreender o cinema de terror. Elas expressam medos simples e se constroem sobre a luta dos personagens pela sobrevivência – além, é claro, de trazerem à tona o medo do desconhecido.

Pensado durante quase toda a década de 1970 e finalmente lançado em 1981, An American Werewolf in London é um longa-metragem importante por muitos motivos. Em primeiro lugar, ele reacendeu a vontade de Hollywood de contar histórias envolvendo lobisomens. Em segundo, ele estabeleceu um alto padrão a ser seguido, com maquiagens admiráveis para a época (ainda que seja difícil levá-las a sério hoje em dia), violência e um uso cuidadoso da própria figura do monstro, que – se você parar para pensar – aparece muito pouco ao longo do filme. Isso sem contar o fato de que a produção impressionou Michael Jackson, que contratou a mesma equipe, incluindo o diretor John Landis, para a realização de seu videoclipe Thriller.

De qualquer modo, a história é bastante simples e autocontida – a ponto de o final ser um pouco anticlimático para quem se acostumou com a mania de Hollywood de deixar uma ponta solta para ser pega pela continuação. Ou seja, com apenas 97 minutos de duração e um bom equilíbrio entre o terror e a comédia, An American Werewolf in London é um filme-pipoca como não se vê mais hoje em dia.

Na trama, David Kessler (David Naughton) e Jack Goodman (Griffin Dunne) são dois universitários americanos fazendo um mochilão pela Europa. Em sua passagem pela Inglaterra, no entanto, eles se perdem durante uma noite de lua cheia e acabam sendo atacados por uma estranha criatura. David acorda semanas depois em um hospital londrino, apenas para descobrir que Jack está morto. Em choque por causa do ataque, ele discorda da versão oficial da polícia, começa a ter sonhos estranhos e conversas com seu amigo falecido, que insiste que ele deve cometer suicídio antes de se transformar em um lobisomem. Ainda assim, David segue em frente e até inicia um relacionamento com uma enfermeira, Alex Price (Jenny Agutter), mas a chegada da lua cheia trará apenas mais sofrimento para sua vida.

O que se segue, obviamente, não é muito difícil de prever. O que An American Werewolf in London faz é compensar a obviedade da história com bons momentos. A cena de transformação se tornou icônica e isso não é à toa. Ela é formada por um conjunto de detalhes que até hoje impressionam – embora, obviamente, a computação gráfica atual pudesse facilitar um bocado o processo e melhorar o resultado final (vamos ver como isso será feito no remake). Além disso, há muitas sequências que realmente assustam e você se percebe com medo daquela criatura que, até alguns momentos atrás, parecia uma ameaça pouco real.

Isso sem contar que o elenco funciona muito bem. David Naughton abusa de seus olhos de criança pidona e consegue manter a simpatia do público mesmo após as cenas mais fortes do filme. Já Griffin Dunne vive, simultaneamente, uma transformação divertida e macabra ao longo da produção, contrabalanceado o estado de decomposição de seu personagem com um bom humor crescente. Para completar, há uma diversidade de coadjuvantes que exploram estereótipos ingleses, o que é sempre divertido.

Por mais que seja incapaz de deixar uma pessoa adulta sem dormir, An American Werewolf in London é um longa-metragem que merece ser redescoberto pelo público. Ganhador do primeiro Oscar de Melhor Maquiagem, o filme diz muito sobre o que o cinema de terror deve ser: uma experiência maluca, que assusta e diverte ao mesmo tempo, mexendo com um lado macabro da nossa imaginação e com um lado ingênuo dos nossos medos.

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