Divagações: Miss Peregrine's Home for Peculiar Children

Suponho que o meu momento para esse tipo de livro já tenha passado. Antes de ver Miss Peregrine's Home for Peculiar Children , eu li to...

Suponho que o meu momento para esse tipo de livro já tenha passado. Antes de ver Miss Peregrine's Home for Peculiar Children, eu li toda a trilogia de Ransom Riggs. A premissa é bem interessante e as fotografias que direcionam a obra e brincam com a criatividade do autor são maravilhosas (e representam um excelente trabalho de pesquisa). Ainda assim, a história não conseguiu me cativar.

Restava, então, minha esperança de que Tim Burton fosse capaz de fazer algo interessante com o material, trabalhar as bizarrices e se aproveitar desse visual macabro-forjado já trazido pelas fotos. Mas algo me dizia que algo estava estranho (e não no bom sentido). Os trailers já me mostravam que o filme estava colorido demais, aventuresco e, talvez, até mesmo mais romântico que o necessário. Para uma obra sobre ‘crianças peculiares’, esse longa-metragem prometia ser simplesmente comum.

E foi, basicamente, isso o que me afastou de Miss Peregrine's Home for Peculiar Children. Eventualmente, contudo, resolvi dar uma chance. Sem o peso de tantas expectativas – afinal, eu já não tinha muita simpatia pelo material original e não estava colocando muita fé no trabalho do diretor –, a produção funciona como uma aventura leve para adolescentes.

O protagonista parece estar sempre constrangido, mas é guiado por mãos firmes durante toda a história. O vilão deixa a desejar, mas é assustador o suficiente. A trama é meio confusa, mas há tanta coisa acontecendo que isso não tem tanto problema. É só pegar a pipoca, lambuzar os dedos de manteiga e ter a consciência de que esse não é um filme que vai mudar a sua vida. Ainda assim, ele pode te levar a alguns lugares mágicos se você estiver disposto a mergulhar.

A história envolve Jake (Asa Butterfield), um menino traumatizado pela morte do avô (Terence Stamp). Incentivado por sua psicóloga (Allison Janney), ele e o pai (Chris O'Dowd) viajam até uma ilha do País de Gales com o objetivo de conhecer o orfanato onde o avô viveu por alguns anos, saindo de lá para lutar na 2ª Guerra Mundial. O local, contudo, foi destruído por um bombardeio não muito tempo depois e nenhum dos antigos colegas sobreviveu – ao menos, essa é a versão oficial. Na verdade, todos ainda vivem, mas estão presos a um looping temporal que os permite reviver o dia anterior ao bombardeio.

Jake consegue entrar no looping e se encanta por uma ex-namorada de seu avô, Emma (Ella Purnell), faz amizade com um menino invisível (Cameron King) e conhece diversas crianças peculiares. Entretanto, uma série de acontecimentos desastrosos já estava em seu encalço. Eles envolvem principalmente Barron (Samuel L. Jackson), um velho inimigo da diretora do lugar, Miss Peregrine (Eva Green).

O detalhe é que, nessa breve sinopse, eu deixei muitos e muitos bons personagens de fora. Miss Peregrine's Home for Peculiar Children é um filme que ganharia muito ao explorar devidamente cada uma dessas personalidades repletas de traumas e perdidas no tempo. Se fosse levado por seus personagens e suas bizarrices, a produção teria muito a ganhar e se aproximaria mais dos bons filmes de Tim Burton, onde a inocência se choca com valores preestabelecidos, onde o indivíduo é, ao mesmo tempo, o inesperado e o novo olhar.

Ao mesmo tempo, há uma trama bem interessante, cheia de elementos intrínsecos e que precisa ser contada (suponho que os fãs teriam um ataque se o universo fosse apenas usado como uma desculpa para outras histórias). Muitos aspectos foram simplificados para que o filme não se alongasse demais ou gerasse muitas pontas soltas e, com isso, algo também se perdeu. Por mais que eu não admirasse particularmente o material original, sua transposição para o cinema se transformou em algo mais ralo, mais pobre. Ficou faltando especialmente o elo entre os personagens, a motivação que os reúne e que os fazem seguir em frente. Eles não deveriam apenas seguir o fluxo, mas precisariam agir e ter objetivos claros em mente (ainda que caminhos confusos).

Miss Peregrine's Home for Peculiar Children, no fim das contas, não conseguiu agradar quem esperava ansiosamente para ser agradado e nem fisgou quem chegou desavisado. É um filme bonito demais para passar em branco e, a seu modo, ele consegue deixar uma impressão. Ainda assim, havia um grande potencial que se transformou em uma casca vazia. Uma estética com um conteúdo que não conseguiu trespassá-la.

Outras divagações:
Alice in Wonderland
Dark Shadows
Frankenweenie
Big Eyes

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